Escrevo em jornais, blogues e redes sociais desde 2009, disciplinarmente, por obrigação e por prazer. É das coisas que mais gosto de fazer. Dou a minha opinião, exponho estados de alma, partilho experiências, desabafo sobre a esquizofrenia da maternidade e tenho crescido com milhares de pessoas que desconheço mas cujas reações aos meus escritos me divirto a imaginar. Quando comecei, era fácil - era mesmo. Escrevia o que queria sem medo, sem pensar nas reações, sem medir consequências, sem fazer ideia como seria lidar com insultos públicos. Não os tinha ou eram residuais..Escrevi vezes sem conta contra a despenalização do aborto e contra a eutanásia. E quando o fazia, era como se estivesse a participar num debate público, com a preocupação na coerência dos argumentos, no respeito pela opinião contrária - desde que fosse honesta e não histérica e oportunista. .Assumi-me católica praticante sem complexos e sem reticências, quando tinha de ser, e conservadora, além de liberal (na versão conservadora do conceito - acabei a votar na IL, mas não repito, prometo). Disse mal do socialismo e de socialistas com rancor, com ironia e de forma jocosa. É uma fraqueza minha. Exagerei vezes sem conta, fui para fora de pé, acertei em vários alvos e diverti-me sadicamente com vários ferimentos graves que infligi pelo caminho. Descartei-me dos populismos como se estivesse a fugir de um ninho de vespas e percebi que passei mais tempo a tentar afirmar aquilo que não sou, aquilo em que não acredito, do que a vincar as minhas convicções. .Ao fim de 13 anos de esquizofrenia constato que o mundo da opinião livre está em perigo e não é livre. Já não se diz o que se quer, o que se pensa, sem se sofrer consequências - o que condiciona. Ser contra a pena de morte é admissível, ser a favor da eutanásia é uma prerrogativa, ser contra o aborto (a favor a penalização) é um insulto público. A moral, as convicções, são hoje ditadas pelo número de pessoas que aderem às causas e as pessoas aderem às causas sabe-se lá como e porquê. Também a fragilidade das convicções é monstruosa, uma vez que não existe literacia, honestidade intelectual por parte dos poucos que a têm e porque não há espaço para debates. Hoje, as discussões travam-se em guetos, em tertúlias fechadas, quais grupos de terroristas, onde se congeminam estratégias para derrotar os grupos adversários. .Hoje, alguém defender a posição que a Igreja defende, ou seja, ser contra o aborto, é um escândalo; defender que estão em causa dois direitos e que um é a vida é ser radical, troglodita. Estamos a um passo de ser proibida uma defesa destas, de ser a favor da lei anterior ao referendo de 2007, por exemplo . .E é por isto, por radicalismos destes e pelo grau de intolerância - como se vê do outro lado do Oceano -, que se responde mais cedo do que tarde com mais radicalismo, com mais intransigências. Porque todos estes movimentos, meus amigos, são pendulares: a força com que o pêndulo vai para um lado é igual à força com que o pêndulo volta. .Não estiquem a corda, ou amanhã acordam no Texas..Jurista