Muita coisa se passou em mais um ano repleto de conflitos, guerras e de uma economia europeia a "perder ímpeto". Na Ucrânia, a contraofensiva falhou. Na Palestina, o Hamas acendeu o barril de pólvora e Israel respondeu com mais pólvora, à espera que tudo expluda. Por cá, vimos uma vez mais o PS... a ser PS. O meu destaque, porém, vai para um fenómeno que tem passado desapercebido a muita gente, nos meios conservadores: a conversão inesperada de personalidades notáveis ao cristianismo, ou mesmo ao tradicionalismo católico.
Ayaan Hirsi Ali terá deixado boquiabertos os seus leitores com o seu artigo "Why I am now a Christian", publicado em novembro. Trata-se de uma ativista pelos direitos das mulheres em países islâmicos. Com bastante impacto, tem lutado contra o casamento forçado, os crimes de honra, o casamento infantil e a mutilação genital feminina. Nascida na Somália, começou como muçulmana. Tornou-se ateia, em 2002, ao ler Bertrand Russell. Agora, converteu-se ao cristianismo, já que o "O ateísmo é incapaz de equipar-nos para a guerra civilizacional".
O caso de Tim Stanley é diferente. Jornalista e historiador, colaborou com televisões e jornais de vieses políticos díspares, à esquerda e à direita; desde a CNN e The Guardian ao Spectator e Daily Telegraph. Bem conhecido do público inglês, foi presidente do Labour Club da Universidade de Cambridge (antiga Fabian Society da mesma universidade) e candidato pelo Partido Trabalhista à Casa dos Comuns, nas eleições gerais de 2005. Mas, foi justamente em Cambridge que se desvinculou do marxismo para abraçar a Igreja Católica.
Sucede que, nestes últimos tempos, a mera conversão não o satisfazia. Stanley frequenta hoje a Missa Tradicional, em latim e pré-Vaticano II, onde terá redescoberto a sua juventude. Termo que, aliás, remete ao próprio salmo introdutório do rito antigo: Introibo ad altare Dei, ad Deum qui laetificat juventutem meam (Subirei ao altar de Deus. Do Deus que alegra a minha juventude).
Mas, a conversão que mais furor causou foi, sem dúvida, a de Tammy Peterson, mulher do famoso psicólogo Jordan Peterson. Após ser diagnosticada com uma forma extremamente agressiva de cancro nos rins, Tammy foi aconselhada por uma amiga que lhe deu um rosário abençoado pelo Papa. Foi essa a oração que a fez sobreviver às dores. Só faltava mesmo era a cura. Esta ocorreu no 5º dia da novena que rezou ao santo da sua devoção, S. Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei.
Como em todos os milagres, só acredita quem quer. Mas, este caso é muito peculiar. Repare-se que Jordan Peterson é um Junguiano, herdeiro da tradição filosófica moderna, que separa a realidade exterior do pensamento. Para Carl Jung, o real é inacessível. Apenas existem narrativas simbólicas baseadas na repetição de arquétipos, e são estas que dão sentido, ou não, à vida humana. Daí que a experiência do milagre - para quem nele acredita - tenha sido um choque para Jordan. Afinal, o que ele viu não foi somente uma narrativa simbólica com sentido, mas a própria realidade a tocar na sua vida. Resultado: Tammy converteu-se e o marido parece ir pelo mesmo caminho. Dizem as boas línguas que também já foi "catado" na Missa Tradicional.
Estas notícias não saem na imprensa de massas. Não é por mal, nem porque os media estejam a ocultá-las por algum motivo obscuro ou conspiratório. Simplesmente, não se dão conta de que o mundo está a mudar, em pequenos círculos, espalhados por todas as partes. Trata-se de uma mudança endémica, silenciosa, e que só não passa ao lado de quem a teme. Nomeadamente, o Partido Democrata, que não tem pejo em usar meios federais para vigiar quem o critica. E o próprio Vaticano, que abençoa "todos, todxs, todes", desde que não se atrevam a ser católicos.
Economista e investidor