
Docas de Lisboa, princípio da tarde de um dia de agosto. Há muitas pequenas embarcações ancoradas em frente aos bares e restaurantes desta zona de Alcântara, mesmo à beira Tejo. Um conjunto destaca-se dos demais: uma pequena doca flutuante com painéis solares protege um barco cinzento com cerca de cinco metros e deixa-o completamente à sombra e fresco perante o calor. No topo da doca lemos Faroboats. Parece nome de companhia estrangeira mas trata-se mesmo de um negócio português. A empresa está instalada não muito adiante, na Doca de Belém, onde criou um barco elétrico para cinco passageiros, carregado a partir da doca que o protege.
Conjugar o barco elétrico com a doca autónoma garantiu um investimento de 125 mil euros por parte do fundo EEA Grants (financiamento da Noruega, Liechtenstein e Islândia) e foi um importante embalo para o arranque do negócio. Até agora, terá sido investido perto de meio milhão de euros e também já foram conquistados alguns galardões internacionais.
Considerando que cada barco custa, no mínimo, 70 000 euros, a aposta no mercado português previa o aluguer para turismo, que não exigia qualquer licença até aos 5 metros de comprimento. Só que as regras mudaram e agora só se pode conduzir sem documento se a embarcação tiver até 2,5 metros. “Isto acabou por nos estragar a ideia”, lamenta Tomás Costa Lima, um dos fundadores da empresa.
À conta da alteração legislativa, aponta ainda mais para o estrangeiro e com barcos mais compridos, com 9,5 metros. “Mercados como Miami (Estados Unidos) e Dubai interessam-nos muito, embora tenhamos de ter um equilíbrio entre a potência do motor e o peso da embarcação, por causa das baterias”, sinaliza.
Por causa disso, a empresa procura agora novos investidores para poder fabricar os protótipos das novas embarcações e ainda das novas docas autónomas.
Assim que a ideia estiver assente, entrará em ação a Nelo, fabricante dos caiaques dos Jogos Olímpicos, de Vila do Conde, para produzir as primeiras unidades, em menos de seis meses.
“Cada vez que me lanço a um projeto penso sempre qual será a melhor forma de resolver os problemas inerentes. Numa embarcação elétrica, no caso, com cinco metros, onde a vamos carregar? Daí ter pensado na doca flutuante de carregamento, que cria autonomia em todo o conjunto, independente, em qualquer parte do mundo”, refere.
As baterias do barco ficam carregadas em menos de três horas e conferem uma autonomia de pelo menos oito horas.
No processo de construção do barco, além da fibra de vidro, nota para a infusão a vácuo das paletes de madeira, proveniente dos Açores, que preenche todos os espaços com resina de baixa espessura e espuma sólida e flutuante, tornando a embarcação mais leve e inafundável.
O motor vem dos Países Baixos e tem as pás presas ao exterior. “Não há óleos nem manutenção. É um motor que é o ideal para baixas e médias velocidades”, na ordem dos seis a oito nós (de 11 a 15 km/h).
A ideia nasceu em 2018. “Nos rios e canais estão a acabar com os motores a combustão. É uma oportunidade para electrificar tudo”, conta Tomás Costa Lima está habituado a desenhar embarcações - participou, por exemplo no design do Salicórnia, o primeiro ferry elétrico a transportar passageiros e veículos em Portugal, a circular na Ria de Aveiro.
Nessa altura, a ideia de um barco de recreio totalmente elétrico já não era totalmente nova. Em Portugal, a Sun Concept, a partir do sul do país, fabricava pequenas embarcações com painéis solares incluídos. Só que Tomás Costa Lima é também “um pouco inventor”. A solução da doca flutuante resolveu o dilema de “proteger o barco das intempéries” porque é elevado e deixa de estar em contacto com a água, ficando sempre seco. “Com a proteção, não é necessário colocar uma camada de tinta anti-fúngica, que é bastante nociva para o ambiente. O barco não fica em contacto com o mar e mantém-se seco.
No próximo ano haverá mais novidades.