Número de casas vendidas este ano em Portugal vai chegar quase a 170 mil

Mercado imobiliário dá sinais de estabilização, diz CEO da Century 21. Desequilíbrio entre preços da oferta e capacidade das famílias em adquirir esses imóveis está a impedir fecho de transações.
Ricardo Sousa, CEO da rede imobiliária Century 21.
Ricardo Sousa, CEO da rede imobiliária Century 21.Leonardo Negrão/Global Imagens
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Este ano, serão vendidas cerca de 170 mil casas em Portugal. A previsão é de Ricardo Sousa, CEO da Century 21, que a concretizar-se significa um aumento de 9% face às mais de 156 mil transacionadas em 2024. Mas também traduz “uma desaceleração expressiva no crescimento” do número de operações, que no último exercício subiu 14,5% quando comparado com 2023. “Já não estamos a crescer ao ritmo que estávamos nos quatro trimestres anteriores”, realça. Segundo o gestor, o mercado está essencialmente assente nas famílias que já tinham casa e estão em processo de venda para trocar de habitação, e nos jovens até aos 35 anos que puderam aproveitar os incentivos fiscais e a garantia pública concedidos pelo governo para a compra da primeira habitação.

Para Ricardo Sousa, o número de transações “tende a estabilizar e mesmo a reduzir no próximo ano”. E não porque não haja procura, sublinha. É porque as pessoas “já não conseguem pagar o preço dos imóveis à venda”. Recorde-se que os últimos dados oficiais, referentes ao segundo trimestre deste ano, dão nota de uma subida homóloga de 19% no preço das casas. Ainda assim, “no curto prazo, obviamente, que os preços vão manter-se estáveis”, mas “chegaram a um ponto que colocaram a maioria do mercado, mesmo quem está a vender, fora do mercado”, frisa. Como aponta, “não se concluem mais transações porque não há combinação preço/rendimento”.

Segundo o gestor, a garantia do Estado à compra de habitação pelos jovens e as poupanças fiscais nos impostos inerentes à aquisição não resolvem “um problema, que é um cálculo muito simples, que é quanto eu ganho e quanto é que eu vou pagar pela casa”, ou seja, a taxa de esforço. “Este é o desafio. O rendimento disponível dos jovens e das famílias é o grande condicionante. É muito baixo”, salienta. O conhecimento real do mercado permite-lhe mesmo afirmar que “os jovens que podiam comprar já compraram”. E “os que não podiam, continuam a não poder comprar”, ou então são ajudados pelas famílias na entrada inicial.

A estimativa da Century 21 é que a partir do segundo trimestre de 2026 se verifique uma estabilização nos preços, mas não é uma garantia. Em mercados como Lisboa ou Cascais, “já começamos a ter uma redução do valor médio de transação”. No entanto, “no ano passado, antecipámos uma estabilização do preço, mas os incentivos à compra de casa sustentaram uma subida, sobretudo nas cidades secundárias, onde a base de cálculo é bastante baixa e regista subidas médias bastante elevadas”, justifica. Mesmo nas áreas periféricas, as casas abaixo dos 300 mil euros “são cada vez menos”.

O problema do acesso à habitação em Portugal “é estrutural” e “não tem resposta imediata”, defende Ricardo Sousa. “Na minha opinião, apesar de não ser o que as pessoas querem ouvir, mas é a realidade, vai demorar tempo”, frisa. Até porque a solução está dependente de um conjunto de políticas e investimentos do poder central e dos municípios. Para o gestor, um dos pontos cruciais passa pelo planeamento urbano. Nesta matéria, advoga a criação de um plano integrado entre municípios, principalmente das áreas metropolitanas, que defina zonas urbanas e capacidades construtivas, equipamentos e uma rede de transportes públicos eficiente. O projeto Parque Cidades do Tejo “faz todo o sentido”, aponta. É “uma entidade acima das autarquias que está a fazer um macro plano urbanístico para toda a região de Lisboa”.

Century 21 cresce em todos os indicadores

A Century 21 mediou mais de 15 mil operações de venda de imóveis nos nove primeiros meses deste ano, um aumento homólogo de 15%. O volume de negócios ultrapassou os 3,6 mil milhões de euros neste período, mais 28%. O preço médio acumulado dos imóveis fixou-se em 246 mil euros. Nos meses já referidos, a rede imobiliária fechou 4200 contratos de arrendamento, um crescimento de 6%. Segundo revelou, a faturação global da marca superou os 104 milhões de euros, mais 33,6% em termos homólogos.

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