“Ninguém sai beneficiado com tarifas, incluindo importadores europeus”

Fabricante chinesa Dongfeng anuncia expansão das operações em Portugal. Xie Qian, responsável para a Europa, admite ao DN que as tarifas obrigam a “algum ajustamento” na estratégia.
Foto: Paulo Alexandrino
Foto: Paulo Alexandrino
Publicado a

A Dongfeng Motor Corporation, um dos quatro construtores automóveis detidos pelo Estado chinês, está a apostar no mercado português e o primeiro grande objetivo é vender mil unidades já em 2025.

O anúncio oficial da importação de veículos de três marcas (Dongfeng, Voyah e M-Hero) daquele grupo para os stands nacionais, que numa primeira fase colocam no mercado modelos 100% elétricos, foi feito ontem, em Loures, numa apresentação promovida pela concessionária Salvador Caetano, representante das três marcas do grupo chinês.

Ao DN, Xie Qian, general manager da Dongfeng na Europa, começou por explicar que “Portugal é um mercado com muito potencial”. “Portugal não é um mercado muito grande, mas os elétricos representam 18% das vendas totais, uma quota positiva”, disse.

“Neste momento não estamos com pressa, porque os mercados europeus são muito maduros, com consumidores muito sofisticados”, prosseguiu, realçando que o primeiro passo é dar a conhecer os produtos da fabricante chinesa. “Depois, penso que podemos ter algum crescimento nas vendas. No próximo ano, estamos a apontar para a venda de mil unidades”, revelou.

Entre as marcas de elétricos, a Tesla (7576) é a que vende mais em Portugal, seguida da chinesa BYD (2268), segundo dados da ACAP entre janeiro e outubro.

Até há dois anos, segundo contou Xie Qian, o mercado europeu “não era estratégico”. “Mas isso mudou”, disse, sem detalhar porquê. O grupo começou a exportar e a desenvolver canais de venda na Europa e, neste momento, Portugal a par de Espanha “são dos mercados mais importantes”. No caso de Portugal, o atrativo está nas condições do mercado.
“O Governo e a comunidade local estão disponíveis para fomentar o desenvolvimento” do uso de carros elétricos, “pelo que dispõem de políticas e benefícios relevantes”. “Por isso, acredito que com a motivação, a política e a abordagem do Governo e do mercado nacional, é possível conquistar algum crescimento da quota de mercado no segmento dos elétricos”, defendeu, notando que essas condições “valem para todas as marcas, não apenas para a Dongfeng”. 
Tarifas desafiam estratégia

No final de outubro, a União Europeia adotou direitos de compensação definitivos sobre as importações de veículos elétricos a bateria provenientes da China por um período de cinco anos. As tarifas a aplicar podem chegar até aos 35%. Questionado sobre esta questão, o responsável da Dongfeng, comentou que o mercado dos elétricos “está a ser afetado pelas tarifas”. “Mas estamos a tentar manter a nossa estratégia”, garantiu.

Xie Qian defendeu que o cenário das tarifas “é muito mau para o setor e para o mercado” e que “ninguém sai beneficiado, incluindo importadores europeus”. “Temos de encontrar uma abordagem pragmática e justa para resolver esta questão”, disse, admitindo que a fabricante que representa “terá de fazer algum ajustamento” na estratégia e oferta, no curto prazo. 
“Atualmente, os veículos elétricos representam 30,7% [das vendas]”, revelou. No entanto, indicou que o “grande fator distintivo” da Dongfeng Motor Corporation é ter “um portefólio muito abrangente, com todos os tipos de motores nos veículos, desde SUV, sedan ou todo-o-terreno”.

“Estamos dispostos a trazer modelos híbridos também para a Europa. Mas, de qualquer forma, estamos a procurar todas as abordagens possíveis para dar o nosso melhor a fornecer os clientes europeus.”

O que traz para Portugal
Com um posicionamento mais “generalista”, o Dongfeng Box é o primeiro modelo da fabricante a chegar aos stands. É um elétrico citadino com 95 cavalos de potência e uma autonomia até 310 quilómetros. O preço de venda é de 26 750 euros (22 750 euros com incentivo ao abate do carro antigo, IVA incluído).

No segmento de luxo, e até ao fim do ano, a aposta é na marca Voyah (que já se vende desde 2022, mas só agora teve destaque oficial), com os modelos Free e Dream, enquanto a M-Hero, a terceira submarca anunciada, com o SUV M-Hero I estilo militar de 1088 cavalos, só estará disponível por encomenda. Para os modelos da Voyah e M-Hero não foram anunciados preços de venda.
Entre 2025 e 2027, segundo Xie Qian, a Dongfeng Motor Corporation quer lançar “mais quatro modelos na Europa [incluindo Portugal]”. Já no próximo ano deverão chegar os modelos C-SUV e 007 (Dongfeng), e Courage e Passion (Voyah).

Até ao final do ano, estes veículos estão disponíveis em seis espaços da rede de concessionárias da Salvador Caetano (Lisboa, Porto, Coimbra, Viseu, Leiria e S. Miguel). Em 2025, a rede concessionárias será alargada a outras nove cidades.
Em termos logística e peças, a Dongfeng Motor Corporation tem já um armazém em Madrid e, em 2025, abrirá outro na Holanda.

Nos últimos anos, Portugal tem atraído marcas automóveis chinesas, como a Forthing que também é do grupo chinês Dongfeng mas é representada em Portugal pelo grupo Auto-Industrial. 

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt