No pasa nada

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Quem vencerá as eleições? Não faço ideia, nem tenho sequer um palpite. Na política, tal como nos investimentos, convém evitar a mentalidade de especulador. Trata-se de uma questão de idade mental, pois só os mentalmente adolescentes, ou adultos com síndrome de Peter Pan, é que especulam.

O que é isso de especular? É viver do "reatity show", deste enorme "big brother" que os media nos oferecem 24/7. Atenção, não os critico. Esse é o seu negócio e, diria mesmo, serviço à comunidade. O seu papel é contar-nos histórias. O nosso é separar o trigo do joio, com vista a alcançar uma visão panorâmica e de longo prazo.

Tal como o especulador financeiro segue ao minuto o Yahoo Finance e as oscilações de um mercado tão imprevisível quanto um maníaco-depressivo de último grau, o especulador político adora ficar especado de rabo no sofá a ver notícias, comentários e debates na TV. Assim, é bem provável que ele saiba melhor do que eu com quem se aliará o PS ou o PSD após as eleições, bem como as minudências secundárias do que ambos propõem para a economia.

Sobre tudo isso, como diria Sócrates (o original, que nunca foi a Paris nem vivia à pala dos amigos), só sei que nada sei.

Algumas coisas, porém, não apenas sei como tenho por evidentes:

A dívida irá crescer ainda mais, bem como o serviço da mesma. O aumento da taxa de juro dependerá, no entanto, do quanto o BCE poderá impor sem que a economia desabe por completo. A inflação e deflação serão a faca de dois gumes que, alternadamente, poderá dilacerar o poder de compra do cidadão comum. Os impostos subirão, por necessidade congénita ao estatismo aliada à desfaçatez e hipocrisia dos estatistas, que geralmente se refugiam em justificações morais para viver à custa do trabalho, riqueza e poupança dos seus eleitores.

Por cá, além do exposto, o salário mínimo continuará a aumentar e a aproximar-se do médio. Os supostos beneficiados continuarão sem perceber que o que se dá com uma mão tira-se com a outra. A função pública continuará a engordar de uma forma desproporcional aos serviços que presta e à riqueza criada no país. O SNS continuará a cair aos pedaços, enquanto os seus mais acérrimos defensores continuarão a recorrer ao privado. A Segurança Social continuará a fingir que não é um imposto e que guarda o dinheiro dos contribuintes num porquinho-mealheiro qualquer. A educação continuará a ser um faz-de-conta, quase para manter as crianças entretidas enquanto os pais estão no trabalho. Os programas educativos continuarão a privilegiar a ideologia à confluência entre a cultura clássica e o cristianismo, raiz da própria escola tal como a conhecemos. E os jovens continuarão a emigrar, mesmo que, cada vez menos, tenham para onde ir (apenas sabemos que evitarão a TAP).

Mas, claro, tudo isto é pessimismo. É desta que as eleições irão resolver todos os nossos problemas. Como dizem os espanhóis: No pasa nada.

João AB da Silva, Economista e Investidor

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