Nuno Carvalhosa: "Estamos a analisar as condições do concurso para gerir o SIRESP"

Líder da Cellnex Portugal, gestora de infraestruturas de telecom, admite estar a estudar o dossier da rede de emergência. E revela apostas da empresa, com o 5G à porta.
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Nuno Carvalhosa lidera desde 2018 o principal operador independente em Portugal, tendo quase duplicado o portefólio inicial da Cellnex para quase 6000 infraestruturas de telecomunicações sem fios. Foi managing director na Barons Capital, administrador executivo na NOS, exerceu várias posições executivas na ZON TVcabo e na PT Comunicações. Começou a carreira na Autoeuropa onde trabalhou nas áreas de industrial engineering and layout, manufacturing and planning e engenharia de produto, depois de se licenciar em Engenharia e Gestão Industrial pelo Instituto Superior Técnico. Tem um MBA pelo INSEAD e um advanced management program pela Kellog"s School e Universidade Católica e é agora o managing director da Cellnex.

Começamos pela sua casa, é do Sporting, em 2018 também vestiu a camisola da Cellnex quando arrancou com a operação em Portugal, com a aquisição da Omtel por 800 milhões. Este foi um dos maiores investimentos do país realizado em telecomunicações e uma das principais operações de investimento estrangeiro direto realizadas nesse ano. Hoje, como é que avalia este negócio?

Começo por dizer que o investimento tem valido a pena. A Cellnex, desde que entrou em Portugal, já investiu um total de cerca de 2 mil milhões de euros em infraestruturas críticas para que os cidadãos portugueses, as famílias, as empresas e as instituições, nomeadamente administração pública, possam usufruir de boas comunicações móveis. As infraestruturas de suporte a redes móveis são a área central da nossa atividade em Portugal. Tem sido um processo de crescimento muito acelerado, desde a entrada da Cellnex com a aquisição da Omtel, já se sucederam mais quatro. Portanto, um total de cinco transações de aquisições de empresas que fizeram quase duplicar o portefólio de infraestruturas que gerimos. Tem sido um processo de crescimento muito acelerado, mas que tem corrido bastante bem, desde logo para os principais clientes com quem fizemos essas transações.

Há mais investimento a caminho?
Há seguramente mais investimento a caminho, desde logo ao abrigo dos compromissos contratuais celebrados ao longo destas várias transações. Neste momento, houve já bastante investimento realizado por nós - em excesso dessas transações -, e vai haver seguramente nos próximos anos. Vai haver um esforço significativo que envolverá várias dezenas de milhões de euros, de adaptação das infraestruturas que gerimos, para estarem aptas ao acolhimento dos equipamentos de rádio dos operadores para suportar a introdução do 5G. Posso dizer que, por exemplo, já adaptámos mais de mil das nossas infraestruturas para que os operadores móveis possam disponibilizar o 5G aos portugueses.

Acredita que vai ser relativamente fácil, a breve prazo, que o 5G esteja alargado a todo o país? Existe infraestrutura capaz de potenciar isso?
Sim, acredito e, inclusive, a ANACOM acabou de publicar recentemente um estudo relativo à disponibilização do 5G, em que refere que cerca de 60% dos concelhos do país e quase 30% das freguesias do país já têm 5G disponível. Naturalmente, é um processo de investimento e trabalho em que todo o setor de telecomunicações tem estado muito empenhado. Não só os operadores de telecomunicações, mas toda uma multiplicidade de empresas, entre as quais, os operadores de infraestruturas críticas como nós. Detemos infraestruturas que vão ter de ser objeto de muito investimento, aliás, já começaram a ser objeto de intervenção. As infraestruturas têm de ter estabilidade estrutural para acomodar mais equipamentos. Isso porque na nossa atividade há uma dimensão extraordinariamente importante que é a da segurança e saúde no trabalho. Há riscos materiais e, no limite, até de vidas se, porventura, houver uma quebra de uma das infraestruturas. E quanto maior a intensidade de ocupação de equipamentos, maior o risco que existe da sua falência com os riscos que isso acarreta. E uma das coisas que na Cellnex Portugal temos particular orgulho é que, desde que arrancámos em 2018, não tivemos um único acidente de saúde e segurança no trabalho. Isto deve-se às nossas equipas internas responsáveis pela operação e gestão das infraestruturas, mas também ao trabalho ótimo que muitos dos prestadores de serviço com que trabalhamos pelo país inteiro - porque temos infraestruturas no país todo, são cerca de 5500 -, deve-se ao trabalho de uma multiplicidade de empresas e pessoas no terreno.

Este investimento de que fala que vai potenciar o 5G e até assinaram recentemente um acordo para assegurar a rede para soluções de Internet of Things, este investimento é mais em volume de milhares de milhões de euros ou é mais em tecnologia muito especializada?
São várias dezenas de milhões de euros que vamos gastar nos próximos anos na adaptação das infraestruturas. Portugal, infelizmente, ainda padece do problema do baixo nível de partilha deste tipo de infraestruturas. E este baixo nível de partilha decorre, por exemplo, do facto destas infraestruturas, praticamente desde o início do setor das comunicações móveis, terem sido projetadas em sede de requisitos de engenharia civil, para acomodar os equipamentos apenas e só do operador que inicialmente as construiu. Neste momento e depois da introdução do 2G no início dos anos 90, do 3G, do 4G, do 5G, e das infraestruturas sempre a acarretar novo equipamento, há uma maior intensidade do espaço de ocupação destas infraestruturas, para as quais não foram sequer projetadas nem construídas de raiz. Esta é a razão por que já começámos um plano de investimento muito significativo neste processo de adaptação e é um processo que vai continuar nos próximos anos, com a introdução cada vez mais alargada do 5G no país inteiro.

Têm tido dificuldade em encontrar recursos humanos qualificados dada a escassez que existe ou têm conseguido fixar o talento na empresa?
De forma talvez um pouco paradoxal, temos conseguido as duas coisas. Tenho o privilégio e o prazer de trabalhar todos os dias com uma equipa ótima que temos na Cellnex Portugal. Tive oportunidade de criar de raiz, a partir de 2018, e em larguíssima medida temos sido capazes de reter, saber desenvolver e construir uma cultura de trabalho extraordinariamente positiva. Isto tem feito com que o desenvolvimento das nossas relações com os clientes se venha desenrolando, de forma global, de maneira muito positiva. Ainda assim, a parte do paradoxo é que também temos tido dificuldade em crescer. Sobretudo no período mais recente, diria talvez o último ano, devido a esta questão do "aquecimento" do mercado laboral, temo-lo sentido e não tem sido fácil atrair à velocidade que pretendíamos, recursos com a qualidade que precisamos.

Como é que as interrupções de cadeias logísticas e a falta de matérias-primas têm impactado o negócio?
Uma das formas como este fenómeno generalizado de inflação tem impacto direto na nossa atividade, é em levar a uma apreciação muito significativa do preço do aço que é uma matéria-prima fulcral para a construção das estruturas das próprias torres. Isso é algo que tem acontecido, mais até do que a escassez no abastecimento dessas infraestruturas.

O plano português para aplicar os fundos é adequado aos desafios que tem a nossa economia no que respeita à digitalização e às infraestruturas de telecomunicações?
O PRR, de forma explícita, não consagrou verbas para o desenvolvimento das redes de comunicações eletrónicas de banda larga. No entanto, o Governo já sinalizou que iria disponibilizar verbas ao abrigo de outros programas de financiamento público para o desenvolvimento dessas infraestruturas. Isto parece-nos extraordinariamente importante porque parece-nos que, no geral, Portugal tem um nível de disponibilidade de infraestruturas de telecomunicações bastante assinalável e positivo. Em particular, as infraestruturas de redes fixas de banda larga. Portugal, por exemplo, encerrou o primeiro trimestre de 2022 com cerca de 92% das casas do país cobertas por redes fixas de banda larga. Portanto, ou redes de fibra ótica, ou redes de cabo coaxial, ou em muitos casos ambas as redes disponíveis. Ao final do primeiro trimestre, provavelmente, Portugal estava no top 3 ou top 5, a nível global, em termos de penetração de redes fixas de banda larga. O ponto a que quero chegar é que, seja ao nível das redes móveis, seja ao nível das redes fixas, tipicamente, as zonas do país que não dispõem ou de cobertura de rede de banda larga fixa ou de rede móvel, é porque são zonas desprovidas de condições de retorno económico para o investimento privado. E se o país entende como relevante o desígnio de fazer dotar a integralidade do país das mais modernas tecnologias de acesso a comunicações eletrónicas, parece-me incontornável a necessidade de financiamento público para o efeito.

Ou seja, cabe ao Estado garantir esse acesso nos sítios mais isolados?
Sim, dou-lhe um exemplo: na Cellnex somos bastante ciosos de alguns atributos do nosso posicionamento de mercado, nomeadamente do facto de sermos um operador grossista, um operador neutro e independente. Refiro isto para chegar à questão que é, em particular e decorrente do atributo de independência - e por independência devemos entender o facto de não termos uma relação económica de grupo com nenhum dos operadores nossos clientes -, o nosso sucesso económico depende necessariamente da maximização do acesso às nossas infraestruturas. E esta maximização tem, no nosso entender, um impacto muito pró competitivo no mercado, porque garante que qualquer nível de cobertura possa ser suprido com os mais baixos custos possíveis. E os mais baixos custos possíveis são aquilo que permite que os clientes finais possam usufruir de melhores serviços, mais amplamente disponíveis e aos mais baixos preços. Muitas destas zonas onde não há cobertura, porventura, de 4G ou de redes de banda larga fixa, são zonas em que nem um modelo de completa partilha entre um número, sempre limitado, de operadores que utilizam estas infraestruturas, encerrem as condições de rentabilidade mínima para justificar investimento por parte de privados. Daí, novamente, se o país entende como relevante fazer dotar todo o país das mais modernas redes de comunicações eletrónicas, parece-me que há uma incontornabilidade muito importante do investimento público.

Acredita que, dada a situação atual económica do país, haverá essa margem do Estado para fazer esse investimento?
O próprio Governo já anunciou e até já colocou em consulta pública as regras de um concurso para investimento em redes fixas de banda larga. Presumo que sim, mas acho que essa questão tem de ser colocada a quem gere as finanças públicas.

Mas preocupa-o o estado da evolução da economia?
Preocupa porque acho que estamos a viver tempos que para muitos de nós são novos, para muitos portugueses se não são tempos novos, diria que são quase tempos esquecidos. Termos de andar praticamente 40 anos para trás para encontrarmos um período em que a inflação tenha atingido os níveis a que já está neste momento e que, sobretudo, já são vários anos seguidos com taxas de juro extraordinariamente baixas. Já começámos a entrar num período estruturalmente novo e que tem até potencial para se transformar num período ainda mais novo. Em alguns países, mesmo até nas economias mais desenvolvidas, há aumentos de taxas. De uma forma, são tempos novos que encerram desafios. Na Cellnex, por exemplo, temos alguma proteção em relação ao aumento das taxas de juro porque temos cerca de 85% do nosso stock de divida contratualizado a taxa fixa. Portanto, provavelmente, andamos há alguns anos a incorrer em custos de investimento superiores aos que teríamos podido incorrer se o stock de divida estivesse contratualizado em taxa variável. Mas agora temos este benefício de ter o impacto da subida das taxas de juro bastante mitigado devido a isto.

Apesar de terem esse benefício, existe alguma ponderação dos investimentos que estavam planeados pela Cellnex, tendo em conta o novo contexto?
Talvez de forma também paradoxal, digo-lhe que sim e que não. Não, porque o tipo de contratos que estiveram na origem deste crescimento muito acelerado da Cellnex em Portugal neste período, assentam em contratos com bastante abrangência e densidade e que preveem já compromissos contratuais de adição de novas infraestruturas. E para esses, aquando da celebração dessas transações, cuidámos de garantir que haveríamos de ter condições financeiras para honrar esses compromissos de investimento. Posso dizer-lhe, por exemplo, que desde que arrancámos com a nossa operação, já adicionámos quase 400 novas infraestruturas, das quais cerca de 350 foram adicionadas fora dos principais centros urbanos. E para ser tangível aquilo que lhe estou a dizer, estamos a falar de um total de cerca de 400 e com 350 em localidades espalhadas pelo país, que antes ou não tinham cobertura de rede móvel de todo, ou tinham uma cobertura deficiente e agora passaram a ter boa cobertura de rede móvel. É uma coisa relativamente à qual temos bastante sensibilidade e procuramos acarinhar ao máximo, porque é um contributo importante. Aliás, é um dos contributos mais relevantes da nossa atividade, nomeadamente para a coesão social e territorial do país e para um desenvolvimento económico, social e, porventura, até ao nível de qualificações académicas e de qualidade de vida, decorrente da nossa atividade para que o país se desenvolva e aumente menos a duas velocidades do que historicamente tem acontecido.

Que alterações vê como prioritárias para se conseguir ultrapassar estas dificuldades que estamos agora a enfrentar? Em que é que é preciso que o país aja já para garantir que não sofremos tanto? Nós estamos um bocadinho mais salvaguardados do que o resto da Europa relativamente ao fornecimento de energia. No entanto, em termos de cadeias de abastecimento e de logísticas, há alguma coisa que o preocupe em particular?
Se calhar começaria por uma questão porventura mais tangível, mas que me parece muito importante, ainda que com impactos não no imediato, que é a questão as qualificações. Portugal, no geral, ainda é um país que tem alguns défices de qualificações - académicas e científicas - face aos países mais desenvolvidos e, por exemplo, também ao nível das competências digitais. A prazo parece-me ser um fator incontornável de aumento da produtividade do fator trabalho, e do aumento também da competitividade das empresas portuguesas. Com a situação que já começou a acontecer de inflação muito elevado e aumento das taxas de juro, nomeadamente também o aumento do spread e das dívidas soberanas, que a contenção da despesa pública, e a gestão das finanças públicas parece-me uma questão também incontornável. Voltando à questão do talento, sejam os custos de contexto como um todo, sejam em particular as questões da fiscalidade, parecem-me também bastante relevantes para que consigam reter, como fazer retornar uma parte relevante do melhor talento que todos os anos, felizmente, sai das universidades portuguesas e das mais diversas instituições, por exemplo, de investigação e desenvolvimento.

Mas há algum risco, neste momento, de estarmos a formá-los aqui, mas depois, devido a essa falta de condições, vermo-los sair e eventualmente não voltar, ou não voltar num prazo tão curto?
Mais do que as estatísticas mostram, esse risco materializou-se de alguma forma ao longo dos últimos anos e, se quiser o meu comentário, no sentido de procurar reverter de alguma forma essa tendência. Por exemplo, ao nível das gerações mais recentes, Portugal conseguiu fechar de forma relevante, a diferença em termos de qualificações para a maior parte dos países europeus. Este é quase um jogo do gato e do rato, em que temos de ser capazes de andar um passo à frente se queremos fazer desaparecer essa diferença negativa, como torná-la positiva.

Mas falou de um plano de investimento de longo prazo, e falou de alguma estabilidade contratual, mas depois temos o BCE a admitir intervir nas taxas de juro, não só nesta primeira fase de julho, mas em setembro, e a própria presidente do BCE diz que intervirão sempre que for necessário. Ou seja, há uma possibilidade de haver aqui um choque forte no aumento das taxas de juro diretoras. É exequível este plano dentro dos prazos que estabeleceram, e uma vez que disse que o 5G ainda está muito embrionário?
Deixe-me referir-lhe a parte da pergunta em que disse que não haverá alterações aos nossos planos de investimento exatamente porque há uma parte desse investimento que ficou já devidamente contratualizada, e para a qual assegurámos a disponibilidade a longo prazo, nomeadamente para continuar a trabalhar neste processo, a que dedicámos literalmente todos os dias a adição de infraestruturas para contribuirmos para que mais portugueses, mais empresas, mais instituições da administração pública central e local possa usufruir de condições de cobertura e rapidamente da disponibilidade do 5G.

Mas isso é uma coisa que não depende só de vocês. Há toda uma outra parte, empresas que estão ao lado, o Estado também. Acredita que esse pode ser um risco para todos esses outros atores?
Acredito que possa ser um risco, mas não é um risco específico de Portugal e pode inclusivamente, e espero que venha a ser o caso, que venha até a revelar-se um risco em Portugal menos gravoso, mais controlado, mais mitigado do que será na esfera de influência das taxas diretoras do BCE. E, aliás, daquilo que julgo saber, no espaço das últimas semanas, por exemplo, o spread da dívida pública portuguesa aumentou menos do que em Itália.

Portanto reconhecem-nos um pouco mais de tranquilidade?
Isso.

E aqui a pressão sobre as matérias-primas, nomeadamente, do aço poderá ser um fator?
Poderá ser ou não. Se reparar, nas últimas duas semanas, o preço do petróleo caiu com os receios da recessão, o que per si encerra algum desafio, se vier a materializar-se, todo um conjunto de desafios diferentes, acabou por cair com alguma expressão. Por isso, mantemos uma vigilância muito próximas destas questões, mantemos uma relação muito próxima com os nossos clientes, com o ecossistema que nós próprios gerimos, com parceiros espalhados um pouco por todo o Portugal continental e regiões autónomas, e procuramos sempre, com flexibilidade e razoabilidade, encontrar as melhores soluções para todas as partes envolvidas.

Em relação à retenção de talento, gostaria de perceber se com este plano de longo prazo, estabeleceram alguma meta de contratação, mesmo com todas as dificuldades que têm encontrado no mercado?
Sim. Temos planos aprovados de contratação que tocam praticamente todas as áreas funcionais que temos dentro da empresa, e parte desse plano de crescimento temos conseguido suprir, outra parte tem-se vindo a alongar no tempo, justamente devido a esta dificuldade. Mas posso dizer-lhe, por exemplo, voltando à questão do prazer e do privilégio que tenho de trabalhar todos os dias com uma equipa de primeiríssima qualidade, que soubemos construir na Cellnex Portugal uma equipa bastante diversa e bastante equilibrada em termos de género. Estamos praticamente em paridade de género que é bastante pouco usual num setor de tecnologia, de infraestruturas, a nível global.

Mas estamos a falar de quantas pessoas?
Menos de 100 pessoas.

Para terminar, metas de carbono zero. A descarbonização também é um desafio significativo? A Cellnex quer reduzir a pegada de carbono em, penso que 70% até 2030. Que medidas está a tomar para alcançar esta meta?
Temos dentro do nosso plano diretor de environment, social and governance, um plano que se estende aos 12 países europeus em que a Cellnex está presente. É um plano estruturado à volta de seis eixos, com um total de 92 iniciativas, todas alinhadas com os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Temos feito vários esforços, por exemplo, um deles é o de estender à nossa cadeia logística vários desses objetivos que nós próprios temos. O nosso impacto a nível de pegada de carbono é muito a nível indireto por via daquilo que tipicamente são os nossos parceiros de negócios com, por exemplo, as deslocações que fazem.

Houve alguma verba específica definida para este processo de descarbonização?
Todas as iniciativas, ao fazerem parte deste plano diretor, têm um responsável e têm verbas associadas. Por exemplo, temos iniciativas de eficiência energética para introduzir painéis solares nas infraestruturas que detemos e gerimos pelo país todo. Isto exatamente para contribuir de forma muito direta para a redução da pegada de carbono.

E não pode partilhar connosco esse número?
Não posso. Compreenda que somos uma empresa cotada, com obrigações de partilha de informações e factos relevantes ao mercado e que não sendo público não posso ser eu a torná-lo público.

Falou nos 12 países europeus onde a Cellnex está. Como é que está a correr a operação na Polónia que está tão perto do conflito na Ucrânia?
Até agora tem corrido bem e sem sobressaltos. Por exemplo, a Polónia consubstancia uma inovação de modelo de negócio, porque diria que na Europa, ao longo dos últimos dez anos, tivemos este modelo de negócio inovador que criou estas infraestruturas críticas, nomeadamente para a rede móvel. Mas acabámos por ter presença, no acumular dos 12 países, em praticamente todos os elementos da cadeia de valor de infraestruturas de telecomunicações. É um modelo de negócio inovador porque fez transitar de operadores verticalmente integrados, ou seja, que detêm e gerem a sua própria infraestrutura e prestam serviços aos clientes finais. Estas infraestruturas deixaram de ser detidas por operadores verticalmente integrados para passarem a ser detidas por operadores específicos de infraestruturas, grossistas, neutros e independentes, como é o nosso caso. Na Polónia, por exemplo, fizemos uma segunda transação o ano passado em que introduzimos uma nova inovação no espaço europeu, que foi levar este modelo de detenção de infraestruturas ao equipamento de rádio - tipicamente propriedade dos próprios operadores -, e passarmos a ser nós os detentores. Passámos a ser nós a operar, a manter as antenas, exatamente nesta perspetiva da maximização da sua partilha por mais do que um operador, como temos feito em todos os outros elementos em que estamos presentes. Desde logo, o mais importante deles todos são estas infraestruturas passivas que suportam os equipamentos que permitem a cobertura de rede móvel e os serviços de comunicações móveis.

Poderia ser interessante para a Cellnex ter algum papel na gestão da rede SIRESP?
É um concurso que foi lançado há muito pouco tempo, veremos o que vai acontecer. É interessante olharmos para as regras do concurso e fazermos a nossa avaliação. É uma área em que estamos presentes noutros países, não escondo isso, estamos presentes em redes de fibra ótica, em data centers, em serviços de televisão digital terrestre, em serviços de comunicação de emergência. Portugal até tem um exemplo muito paradigmático a nível europeu, estamos a lançar uma rede de IoT com uma capilaridade praticamente total e com cobertura a nível nacional. Garantidamente, dentro dos 12 países da Cellnex, é uma das maiores redes de IoT que vai estar disponível.

E vão avançar para o SIRESP?
Efetivamente os serviços de comunicações de emergência são uma área de competência que temos, as condições do concurso são as que são, foi lançado há pouco tempo. Estamos a analisar essas condições e a seu tempo tomaremos uma decisão sobre o que fazer.

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