O Orçamento não é a Economia  

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Na verdade, a economia do país não se resume ao Orçamento do Estado, contrariando a bolha mediática e comentariado político confinante que obsessivamente fazem supor que não haverá mesmo vida para além dele, tal a desconformada importância que lhe atribuem. Mas a realidade é que há. De facto, o valor de bens e serviços produzidos pelas administrações públicas constitui, segundo o INE, apenas cerca de 20% da composição do PIB. O que significa que é a atividade privada que concorre em 80% para o PIB do país, através do consumo privado, do investimento e das exportações, deduzindo o valor das importações.

Tomar o Orçamento como o princípio e o fim da economia é mais uma prova de vida da cultura instalada que visa subliminarmente impor Estado como a solução dos problemas e o agente único de progresso, fazendo esquecer o papel da iniciativa privada.

Mais que analisar os números do Orçamento, necessário seria discutir políticas económicas - muitas das quais apenas exigem liderança e decisão e não qualquer verba orçamental -- que sustentam as receitas que permitem as políticas sociais e o consumo público.

Decisivo, sim, seria debater a política energética cujo custo destrói a competitividade e cria défices tarifários a pagar no futuro, ou a política ferroviária que, num regresso ao passado, opta pela bitola ibérica em vez da bitola europeia, ou uma política de redefinição das funções do Estado e de desburocratização, ou a política ambiental que tudo proíbe, até a conciliação de desenvolvimento agrícola e de novas culturas compatível com o uso dos solos para habitação, pois não há agricultura próspera sem um viver digno dos trabalhadores.
Ou uma verdadeira política de investigação tecnológica virada para as empresas, inovação e competitividade, que crie produtos e mercados, ao contrário de uma investigação tantas vezes feita a mero gosto do investigador. O escassíssimo número de novos produtos criados em Portugal demonstra que este este último será o tipo de investigação que, salvo honrosas exceções, se pratica no nosso país.

O essencial da economia não está no Orçamento, ao contrário do que o persistente comentariado estatista vai deixando subentendido. Mais produtivo e esclarecedor seria que os debates se fizessem em torno da economia e não em torno do Orçamento.

Economista

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