Em março de 2023, Fernando Haddad, o ministro brasileiro da Fazenda, isto é, das Finanças, já estava de malas feitas para uma viagem à China. À última hora, ficou no Brasil. A apresentação do “arcabouço fiscal”, o equivalente grosso modo ao plano orçamental para o país, prevista para os dias seguintes à visita ao país oriental, foi o motivo..“O Haddad não pode comunicar uma coisa e sair. Percebe? Seria estranho. Eu anuncio e vou embora? O Haddad tem que anunciar e ficar aqui para debater, para responder, para dar entrevista, para conversar com o sistema financeiro, com a Câmara dos Deputados, com o Senado, com outros ministros, com empresários”, justificou então Lula da Silva, presidente do Brasil e “chefe” de Haddad..Em abril deste ano, no entanto, Haddad pôde servir-se finalmente do aeroporto e rumar a Washington DC para uma agenda de reuniões com o Fundo Monetário Internacional, da diretora-geral búlgara Kristalina Georgieva, e o Banco Mundial, do presidente norte-americano Ajay Banga, além de uma reunião bilateral com a Comissão Europeia para Assuntos Económicos, do comissário italiano Paolo Gentiloni..Porém, a meio da viagem, instruções do Palácio do Planalto para voltar a Brasília: desta vez, o motivo foram as negociações com o Congresso Nacional, envolvendo mudanças na meta orçamental, isto é, superávit previsto apenas em 2026 e não em 2025..Agora na segunda-feira, dia 4, de malas feitas e passaporte na mão, finalmente, Haddad lá partiu com destino a Paris, Londres, Berlim e Bruxelas. Para se vingar da viagem cancelada à China e interrompida aos EUA, nada como um périplo pela Europa outonal, terá pensado..À última hora, no entanto, nada feito: pouco tempo antes de redigido este texto soube-se que Lula, pela terceira vez, mandou Haddad ficar em solo doméstico a curtir o Brasil primaveril em reuniões consecutivas com o próprio presidente da República, um batalhão de ministros e uma mão cheia de deputados..O motivo agora é o stress do mercado financeiro com a demora do anúncio das medidas de corte de gastos, que elevou as incertezas orçamentais sobre a sustentabilidade da dívida pública num cenário de alta dos juros no Brasil: o dólar fechou em disparada de 1,52% na sexta-feira, dia 1, cotado a 5,869, o maior patamar para a moeda norte-americana desde o início da pandemia, quando, em 15 de maio de 2020, esteve cotada a 5,841..Além do mercado, Haddad vai ter ainda de lidar com as pressões do poder legislativo. E do próprio executivo a que pertence, com ministros a ameaçarem demissão caso os cortes atinjam com força as suas pastas..Em 2018, o jornalista Thomas Traumann, hoje comentador do canal Globonews e colunista da revista Veja, conversou com Delfim Netto, Fernando Henrique Cardoso, Guido Mantega, Henrique Meirelles, Antonio Palocci e Zélia Cardoso de Mello e mais oito ex-ministros das Finanças do Brasil que se queixaram da pressão, das críticas e dos muitos 'nãos' ouvidos no exercício do cargo. Fez ainda três anos de pesquisa antes de escrever um livro..O título escolhido foi - e Haddad deve concordar com ele a cada meia volta rumo ao aeroporto de volta ao gabinete de Brasília que é obrigado a dar - “O Pior Emprego do Mundo”.