Os viveiros da Viplant ocupam 35 hectares de terreno distribuídos entre Paderne, Alte e Silves, tudo terras algarvias.
Os viveiros da Viplant ocupam 35 hectares de terreno distribuídos entre Paderne, Alte e Silves, tudo terras algarvias.D.R. / Viplant

“O que a Viplant faz bem é vender beleza e alegria a toda a Europa”

Com mais de 35 anos, empresa algarvia cujo mote é “Do Algarve para o Mundo” exporta 65% da sua produção e 'floresce', em parte, graças a fundos europeus.
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 “A Viplant produz e comercializa plantas ornamentais em vaso, oferecendo uma qualidade da melhor que se pode encontrar pela Europa fora e um serviço ao mesmo nível”, descreve num tom mais sério Frederico Pinheiro Chagas, diretor-geral e sócio-gerente da empresa algarvia de produção, comercialização e distribuição de plantas mediterrânicas e subtropicais, depois da tirada mais leve e bem-disposta que serviu de título ao presente artigo. Sediada em Paderne, a pouco mais de 13 quilómetros de Albufeira, a Viplant foi lançada em 1988 por dois amigos, agrónomos algarvios, para responder à falta de plantas ornamentais no mercado português. Hoje exporta 65% da sua produção de viveiros, que são três e ocupam 35 hectares de terrenos em Paderne, Alte e Silves, tem dois Garden Centres, em Vilamoura e Oeiras, e fatura 12 milhões de euros por ano.

Nos seus vastos viveiros há também abrigos de sombra e estufas aquecidas, onde se produzem milhão e meio de plantas anualmente, em mais de 100 variedades, e nos Garden Centres, a Viplant abriu o leque de produtos vendidos para abranger acessórios de jardinagem, vasos, floreiras e artigos de decoração. Além de que, entre os serviços prestados, está o aluguer e a manutenção de plantas. Tudo isto pode ser contratado através das lojas online, outra evolução em que a Viplant investiu.

Em termos de mercado, curiosamente, os Países Baixos, um dos maiores produtores de flores, é o maior cliente estrangeiro da Viplant, revela o seu diretor-geral. “Considerando que 65% daquilo que produzimos - em viveiro - é para exportação, destes 65%, metade vai para a Holanda”, diz Frederico Pinheiro Chagas. “Se comparar, no negócio de toda a empresa, a Holanda está a par de Portugal”, frisa o responsável.

Frederico Pinheiro Chagas, diretor-geral e sócio-gerente da Viplant FOTO: D.R. / Viplant

Fazendo uma hierarquia dos destinos estrangeiros, acrescenta Frederico Pinheiro Chagas: “É a Holanda em primeiro lugar, a França em segundo, e tudo o resto está muito abaixo.”

Então, e onde fica o mote do Algarve para o Mundo? “Já exportámos para outros países que não na Europa”, diz o diretor-geral, “nomeadamente para Angola e para o Qatar. Mas, neste momento, não é viável. O preço dos transportes tornou-se proibitivo e as plantas são um bem perecível. A conjuntura não está de feição", explica Pinheiro Chagas.

O motivo para o grande interesse por flores e plantas mediterrânicas foi outra das interrogações colocadas ao responsável da Viplant. “É um interesse lógico, assim como, se calhar, nós temos interesse pelas plantas tropicais: porque são exóticas”, explica Frederico Pinheiro Chagas. E acrescenta: “Para nós não, mas as plantas mediterrânicas são exóticas para os europeus da Europa Central e do Norte, e temos de pensar que eles vêm de férias para o Sul da Europa, seja para Portugal, Espanha, Itália, Grécia, e o que vêm são plantas mediterrânicas em flor. E que, no fundo, associa-se a planta não só apenas ao artigo, em si, mas transporta aquelas pessoas para umas férias que tiveram, para um momento à beira-mar com o sol a bater e eram aquelas plantas, eram buganvílias, eram hibiscus, eram lindos, e, portanto, dão-lhes uma certa calma, uma certa paz, descontração.”

De facto, frisa o responsável, as mandevillas (ou dipladénias), os hibiscus e a alfazema são as plantas com mais procura, sobretudo para exportação.

Quanto à fixação em terras algarvias, tal aconteceu por duas ordem de razões. A primeira e mais direta tem a ver com o facto de os dois amigos cofundadores da Viplant serem algarvios e da região de Paderne, frisa Frederico Pinheiro Chagas.

“A segunda razão, e que se vem a verificar ser a fundamental, é que o Algarve tem o melhor clima de Portugal para a produção de plantas ornamentais mediterrânicas, e um dos melhores do Sul da Europa”, diz o diretor-geral, também ele engenheiro agrónomo, explicando: “Porque consegue não ser tão quente como o sul de Espanha e, portanto, é um cálculo de condições quer de luz, quer de temperatura, muito interessante para a produção deste tipo de plantas.”

Muito interessante também parece ser a muito ativa Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) Algarve com os seus programas de fundos de europeus, mas que Frederico Pinheiro Chagas confessa que “são muitos anos dispersos [com candidaturas], são muitos projetos”, pelo que já perdeu a conta. O primeiro projeto com apoio de fundos europeus a que concorreu foi no ano 2000. O último apoio de que se recorda esteve ligado à internacionalização da Viplant, em que a contribuição do CRESC Algarve 2020 rondou os 50 mil euros. Mas o diretor-geral conta que são muitos os pequenos e grandes projetos já submetidos e cuja candidatura foi bem-sucedida, pelo que não tem bem noção. Tudo somado, porém, terão sido alguns milhões.

Com as suas cores exuberantes, as trepadeiras mandevillas (ou dipladénias - à esq.), cuja flor existe em diversos tons, e os hibiscus (à dta.) são as plantas com mais procura na Viplant, mesmo para exportação. Fonte: D.R. / Viplant.pt

Contudo, os projetos candidatados no passado (e até futuramente, no âmbito do já em vigor ALGARVE 2030) abrangem muitas áreas da operação, desde os destinados à qualificação de mão-de-obra - “que é cada vez mais cara e difícil de encontrar com qualidade”, diz Frederico Pinheiro Chagas, acrescentando estar a falar em “formação de técnicos intermédios e superiores” -, ao investimento em novas máquinas, estruturas e tecnologias, “para tornar mais eficientes os processos da Viplant”, sobretudo agora com a situação de seca que se vive no Algarve.

"Sim, Já há muito tempo que a sentimos [a seca] e há muito tempo que nos preocupamos com isso. É um problema gravíssimo, a falta de água no Algarve, é uma realidade e muito pouco tem sido feito", lamenta Frederico Pinheiro Chagas. Finalmente, refere o diretor da Viplant, o grande susto de finais do ano passado - de poder não haver água suficiente para o consumo humano na região - lá levou os responsáveis pelo setor a considerarem que terão de tomar medidas.

No caso dos agricultores algarvios, em que a empresa que gere se insere, frisa Fredrico Pinheiro Chagas que "não descansam e mantém a luta junto com as entidades que gerem água para que não se deixe de fazer aquilo que tem que ser feito, mesmo agora que há um alívio".

Quanto à Viplant, especificamente, revela o seu sócio-gerente que desde que lhe foi cortado o fornecimento da barragem não mais foi retomado. Neste momento, tem três níveis próprios de abastecimento: furos artesianos (dois, um em Paderne e outro em Alte); charcas - tendo já uma de grandes dimensões e estando a ser criada outra, para terem o máximo possível de reserva de águas -; circuitos fechados em que se faz a recirculação da água, já em funcionamento num dos viveiros.

A tendência é que último sistema venha a ser aplicado a toda a operação, recorrendo também ao apoio de fundos europeus, diz o responsável e explica como tudo funciona.  "É circuito de água praticamente fechado, o que permite reduzir as necessidades de água a drasticamente. A água que vem dos tetos das estufas, quando chove, a que vem das caleiras no chão, que cai dos vasos quando se rega, portanto, tudo isso é recolhido e volta a esse mesmo depósito central e, daí para as bombas e para as plantas", descreve. "Portanto, tudo o que é desperdiçado vai de volta, e quando chove vai parar outra vez à charca", sublinha mais um vez e em conclusão Frederico Pinheiro Chagas.

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