A inflação está a dar sinais de que está a caminho de estar controlada nos Estados Unidos. Depois de alguns meses em que as leituras ficaram acima do esperado, a divulgação na semana passada da leitura da evolução dos preços em abril trouxe finalmente alguma trégua às preocupações dos observadores e dos mercados financeiros sobre se a política monetária mais restritiva por parte da Reserva Federal estaria a ser suficiente para controlar os preços..Ainda que não seja uma leitura suficiente para declarar vitória, é, de facto, mais um sinal de que a nível das principais economias desenvolvidas, a maré da política monetária está efectivamente a virar, e que 2024 poderá bem conhecer o princípio de um ciclo de descida de taxas de juro..Na Zona Euro, os olhos estarão em junho colocados na decisão do Banco Central Europeu, e as hipóteses de que se materialize uma inversão da política monetária de forma sustentável são, de facto, elevadas. As leituras relativamente ao crescimento económico e aos preços, não têm vindo a surpreender de forma a alterar significativamente a visão do BCE relativamente ao que tem pensado e deixou claro na reunião do mês de Abril. Ou seja, a economia cresceu (0,3%) acima do esperado (+0,1%) no primeiro trimestre, mas continua a ser uma leitura moderada. E a inflação continuou em 2,4% em Abril, valor em linha com as projecções da autoridade monetária. Os mercados financeiros estão também, por isso, bastante confiantes que junho será o momento do primeiro corte de taxas, facto que tem sido visível, por exemplo, nos contratos futuros sobre as Euribor..O BCE deverá, por isso, aproveitar para sinalizar que o processo de controlo da espiral de inflação, que marcou os últimos dois anos, correu bem, e que produziu resultados com impacto pouco significativo sobre a economia. A questão mais relevante agora é perceber que margem existe para prosseguir com novas descidas de taxas e se estas poderão induzir um crescimento económico equilibrado. A resposta provável é que tudo isto estará dependente da forma como os indicadores económicos que forem sendo divulgados durante o próximo trimestre se ajustam com as expectativas da autoridade liderada por Christine Lagarde. .É certo que certas componentes da inflação, como é o caso dos salários - nomeadamente no sector dos serviços - deverão continuar a mostrar-se mais rígidos ao ajustamento desinflacionário em curso, mas no geral existe um consenso alargado de que não será suficiente para quebrar a tendência de descida dos valores dos preços durante o resto do ano. Caso as expectativas para a inflação não conheçam alterações - e será importante ouvir o que dirá o BCE na conferência de imprensa que acompanhará a decisão - é bem possível que depois do verão possamos ter leituras próximas dos 2%, o que abria espaço a, pelo menos, mais uma ou duas descidas das taxas de juro em 2024..Ou seja , podemos mesmo entrar a partir de junho num virar de maré importante e mais virtuoso economicamente. Com preços controlados, e sucessivas descidas de taxas que podem na segunda metade do ano trazer melhor sentimento relativamente à actividade económica, e consequentemente um melhor enquadramento para o último trimestre deste ano, mas sobretudo para uma auspiciosa entrada em 2025..Luís Tavares Bravo, economista, presidente do Internacional Affairs Network