Operadores resistem a abrir o jogo sobre subida de preços

Altice, NOS e Vodafone não deverão mexer nas mensalidades para já. Em 2023, isso pode mudar, mas as telecom não revelam planos. A maior parte dos contratos dos consumidores estão indexados à inflação, que continua no patamar dos 9%
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Quem contratar hoje um serviço de telecomunicações a uma das três principais telecom nacionais vai pagar mais do que quem subscreveu o mesmo serviço há um ano. A taxa de inflação não dá tréguas (em agosto estava em 9%), e o setor das telecomunicações não está imune à escalada. No entanto, Altice, NOS e Vodafone dizem que até ao final de 2022 não preveem encarecer as mensalidades dos clientes. Em janeiro de 2023, a conversa poderá ser outra.

A maioria dos contratos dos consumidores de serviços de telecomunicações estão indexados à inflação, e já é hábito os operadores atualizarem os valores das mensalidades, no início de cada ano. Mas, para já, Altice, NOS e Vodafone não revelam o que vão fazer.

Contactados os três principais players do mercado pelo Dinheiro Vivo, é do Campo Grande que chega a resposta mais assertiva. "Não temos previsto neste momento qualquer aumento de preços até ao final deste ano", afirma fonte oficial. O operador liderado por Miguel Almeida garante que a empresa tem "uma posição cautelosa" perante o aumento generalizado dos preços, "independentemente do impacto" que isso "tem nos custos dos serviços" da NOS. Quanto a 2023, fonte oficial não abre o jogo, limitando-se a dizer que a empresa está "a monitorizar" a situação.

De Picoas, fonte oficial da Altice Portugal reitera que não há planos para mexer nos preços, algo que vem afirmando desde abril. Não obstante, a empresa continua "atenta à conjuntura nacional e internacional e o contexto de inflação está a ser monitorizado com o objetivo de mitigar efeitos na estrutura de custos e na operação".

Também a dona da Meo não indica se planeia mexer nos valores das mensalidades em janeiro de 2023. Fonte oficial, todavia, argumenta que nos últimos dados relativos à inflação do Instituto Nacional de Estatística (INE), "o setor das comunicações eletrónicas não é referenciado por contribuições positivas para a variação homóloga da inflação". E realça que isso "reflete o esforço desenvolvido até ao momento pelo setor para não penalizar os seus clientes".

Já do Parque das Nações, fonte oficial da Vodafone Portugal diz que "nada tem a acrescentar" sobre os preços da empresa, tendo em conta o que já fez saber.
No início de agosto, o DV já tinha questionado a operadora liderada por Mário Vaz sobre o impacto da evolução da inflação nos preços. Nessa altura, foi garantido que ainda não era "possível" à empresa "antecipar eventuais atualizações de preços". Tal como também não era "possível antecipar a expressão ou timings de eventuais alterações de preços". No entanto, em Espanha e no Reino Unido, o grupo Vodafone já anunciou aumentos, precisamente, por causa da inflação.

Subida de preços é difícil de evitar?
Apesar das maiores telecom nacionais quererem tranquilizar os consumidores, indicando que não têm planos de atualização de preços, Altice, NOS e Vodafone sabem que, dentro de pouco tempo, poderão ter de começar a mudar o discurso e a preparar os consumidores para alterações nas mensalidades a partir de janeiro de 2023.

Ainda que o setor não esteja a contribuir para a evolução da inflação, como referiu fonte oficial da Altice Portugal, há outros fatores que dão uma visão diferente.
"O setor é fortemente impactado pela inflação, em particular pelos custos de energia e dos combustíveis, bem como pelos distúrbios das cadeias logísticas e consequente aumento de preços e prazos de entrega dos equipamentos", refere fonte oficial da Vodafone Portugal, indicando que "este aumento de custos tem impacto acrescido num momento em que a Vodafone está a desenvolver múltiplos planos de modernização da rede e de implementação do plano de obrigações de cobertura 5G".

"A expressiva taxa de inflação a que temos estado sujeitos, tem colocado à Vodafone enormes desafios internos de forma a evitar refletir esses impactos nos preços dos serviços. Contudo, esse é um esforço não compatível com a expressão da taxa de inflação ou com o seu caráter de médio longo prazo", acrescenta.

Esta ideia não deverá ser muito diferente da que existe na NOS e Altice, que também têm em curso investimentos para o futuro do setor. Depreende-se que será difícil evitar que todo este contexto não provoque um impacto nos preços cobrados aos consumidores pelos serviços.

Em caso de mexidas nos preços em 2023, quantos sentirão atualização? A maioria dos contratos entre consumidores e operadores têm os valores indexados à taxa da inflação, tal como acontece nas contas da água ou luz. O DV questionou os três players para saber a proporção exata de clientes nessa situação, mas não obteve resposta. Segundo o jornal Eco, no caso da Altice Portugal, 75% dos clientes têm contratos ligados à variação da inflação.

Quanto ganha cada operador por cliente? No final de junho, a NOS registava uma receita média por cliente (indicador ARPU) de 47,4 euros por mês. O ARPU da Vodafone, segundo fonte oficial, era de 13 euros por mês (7,9 euros no serviço pré-pago e 18 euros no serviço pós-pago), no final do primeiro trimestre do ano fiscal 2022/2023 (abril, maio e junho). Ainda que questionada, a Altice Portugal não revela o valor do ARPU.

A última análise da Autoridade Nacional de Comunicações ao subíndice das comunicações do Índice de Preços no Consumidor (leia-se inflação), relativa a julho, indica que os preços, face a julho de 2021, aumentaram 1,7%. Tal deveu-se ao "aumento de preços implementados pela Meo, NOS e Vodafone em abril do corrente ano". Só nas ofertas de banda larga, segundo o regulador, Portugal tem o quinto preço mais caro da União Europeia.

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