A arte de pintar um quadro em cinco minutos

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Ao contrário do que muita gente pensa a grande maioria dos artistas são trabalhadores incansáveis. A obra-prima não aparece apenas por inspiração, mas quase sempre por muita transpiração. Uma vez numa exposição em que eu era o curador, uma senhora perguntou a um artista famoso, que tinha pintado uma das obras, quanto tempo tinha demorado a executá-la. Conhecendo o artista em causa, eu sabia que tanto lhe podia ter levado um mês inteiro, cheio de hesitações, constantes correções e muitas frustrações como poderia ter demorado literalmente dez minutos. A resposta dele foi, no entanto, esclarecedora: demorei quarenta anos!

Quarenta anos era, nem mais nem menos, o que o artista levava de carreira e a sua resposta foi muito verdadeira. Sem quarenta anos de trabalho, de frustrações e alegrias, de hesitações e sucessos, ele nunca conseguiria ter pintado aquele quadro. É toda uma vida de trabalho que se resume naquela obra.

Um médico de grande gabarito quando analisa uma doença, ou um advogado sénior quando dá um parecer e demora cinco minutos a fazê-lo choca-nos, muitas vezes, o valor cobrado, mas que dizer de um diagnóstico médico ou de um parecer jurídico falhado por alguém que cobre menos e sem experiência? O médico ou o advogado não demoraram 5 minutos a dar a sua opinião. Levaram uma vida inteira de estudo e de experiência acumulada.

Infelizmente, na gestão das empresas existe uma pressão enorme (e, muitas vezes, desmedida) das gerações mais novas, na procura da sua ascensão profissional e, por outro lado, cai-se na desvalorização do capital da experiência acumulada das gerações mais velhas. Tudo isto conduz a uma descapitalização crescente do conhecimento por parte das empresas. Acusam-se infundadamente as gerações mais velhas de incapacidade de responder à mudança (como se a resistência à mudança fosse uma questão geracional), mas não se é capaz de ver o cair constante e sistemático no erro, por parte das gerações mais novas por inexperiência e, muitas vezes (o que ainda é pior), por arrogância intelectual.

Vivemos num mundo em que todos achamos que nascemos sábios e conhecedores. Ninguém quer aprender com ninguém porque isso é assumir desconhecimento. Diz o ditado que o homem é o único animal que cai duas

vezes no mesmo buraco (só duas???) e nas nossas empresas é um facto corrente. Buscar a inovação aprendendo com o passado e aproveitar o capital de conhecimento próprio de qualquer empresa é a chave do sucesso que não deve ser desperdiçado.

Ninguém constrói o sucesso em cinco minutos, ninguém dá um parecer ou um diagnóstico em cinco minutos, nem ninguém pinta um quadro em cinco minutos. É toda uma experiência acumulada que vem ao de cima e que no momento certo é aplicada… na vida como na tela.

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