A consolidação da transiçãoe o desafio português

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O ano de 2026 não será um ponto de rutura abrupta, mas um momento de consolidação de tendências que se vêm acumulando desde o início da década. A aceleração tecnológica, impulsionada pela Inteligência Artificial e por novas arquiteturas digitais como a blockchain, anuncia transformações económicas estruturais profundas. Em paralelo, as novas regras do comércio internacional e o enfraquecimento das velhas alianças estão a redefinir equilíbrios globais. Em síntese, num mundo mais incerto, a verdadeira estabilidade virá da capacidade de adaptação estratégica ao futuro. Para Portugal, o desafio não será prever o mundo, mas posicionar-se nele - e capitalizar, para si e para o país, um papel mais central, saindo da zona de conforto da periferia.

Um dos principais temas de 2026 será a reconfiguração da ordem geopolítica. O sistema internacional permanece fragmentado, com um multilateralismo enfraquecido e uma competição mais direta entre grandes potências. Este contexto favorece uma lógica mais transacional nas relações internacionais, obrigando a União Europeia a afirmar-se como espaço de proteção e influência. Para Portugal, será um teste à capacidade de defender os seus interesses através da diplomacia europeia, num cenário em que a neutralidade estratégica deixa de ser confortável.

Depois, importa dizer que tecnologia e energia deverão ser cada vez mais instrumentos centrais de soberania. A Inteligência Artificial será, em 2026, já um fator real de produtividade, desigualdade e poder. Paralelamente, a transição energética continuará a expor dependências críticas de matérias-primas e infraestruturas, tornando a energia um tema tão político, quanto económico - Inteligência Artificial, a digitalização do Estado e a gestão da energia deixarão de ser discursos de futuro para se tornarem critérios de competitividade imediata.

Por fim, a economia global continuará presa entre crescimento moderado e transformação estrutural. Apesar de uma maior estabilidade da inflação, o elevado endividamento e a pressão sobre as classes médias limitarão a ação dos governos. A reindustrialização e a relocalização de cadeias produtivas ganharão peso, colocando desafios acrescidos a países como Portugal, ainda marcados por baixa produtividade, salários pressionados e constrangimentos demográficos e financeiros. Existe neste processo uma oportunidade para Portugal, que goza atualmente de elevado prestígio económico internacional, mas é uma oportunidade que exige escolhas políticas claras. O risco é permanecer numa economia de serviços pouco sofisticados, e muito dependente de ciclos externos. Num contexto global mais duro, a margem de erro é pequena e o custo da inação é elevado.

Economista

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