O próximo ano continuará a colocar desafios que não podem ser dissociados do contexto internacional. A desaceleração do crescimento global e a persistência de tensões geopolíticas criam um ambiente exigente, que pede realismo e capacidade de adaptação.No plano internacional, o principal risco é a fragmentação da economia global. Os conflitos prolongados, aliados a uma rivalidade crescente entre grandes blocos económicos, pressionam as cadeias de abastecimento, o preço da energia e a estabilidade dos mercados financeiros. Neste enquadramento, a estabilidade financeira europeia depende da conclusão da União Bancária, em particular do seu terceiro pilar, o Mecanismo Europeu de Garantia de Depósitos. Sem ele, o sistema financeiro continuará fragmentado, com custos de financiamento desiguais entre países e menor capacidade de canalizar poupança para investimento produtivo. Uma União Bancária incompleta limita a integração dos mercados de capitais e reduz o financiamento de longo prazo necessário a projetos inovadores e intensivos em conhecimento. Em paralelo, o aprofundamento do Mercado Único é condição essencial para transformar estabilidade financeira em crescimento económico. Os obstáculos ainda existentes - sobreregulamentação, transposição desigual de diretivas, encargos administrativos excessivos, falta de harmonização normativa e fragmentação do mercado de serviços - funcionam como tarifas implícitas que travam a escala das empresas, a concorrência e o investimento transfronteiriço. Sem um Mercado Único plenamente funcional, o financiamento europeu não chega de forma eficiente aos setores de maior valor acrescentado.Portugal está particularmente exposto a estas limitações. A dependência do turismo, embora relevante para o crescimento recente, não assegura crescimento sustentado. O desafio central passa por redirecionar o investimento para setores de maior valor acrescentado, apoiados por financiamento estável, integração europeia e ganhos de escala.No plano interno, será crucial conciliar a consolidação orçamental com investimento estruturante. A execução dos fundos europeus é importante, mas não substitui reformas estruturais. Entre estas, o acesso à habitação assume um papel central, com impacto direto na qualidade de vida dos jovens, condicionando a autonomia e a estabilidade pessoal e familiar. Limita e adia decisões, diminui o bem-estar e, em muitos casos, influencia a permanência no país. Ao fazê-lo, fragiliza a coesão social e limita as condições para que os mais jovens possam desenvolver os seus projetos de vida em Portugal.Administradora do Banco de Portugal