“A liberdade financeira começa (também) com a liberdade de escolha”

João Baptista Leite

Presidente da Unicre

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Vivemos numa era em que a liberdade de escolha se tornou um dos principais vetores de empoderamento do consumidor. Escolher como e quando pagar por um bem ou serviço é, hoje, tão relevante quanto decidir onde comprá-lo. Neste contexto, as soluções de pagamento parcelado – frequentemente agrupadas sob o conceito internacional de Buy Now, Pay Later (BNPL) – têm vindo a afirmar-se como uma resposta eficaz às novas exigências do consumidor moderno.

Mais do que uma conveniência, parcelar é uma estratégia de planeamento financeiro que permite ao consumidor aceder a um bem ou serviço quando necessita, e não apenas quando consegue reunir a totalidade do valor. Este tipo de planeamento, já comum entre gestores financeiros, está hoje ao alcance de todos democratizando uma prática que, durante muito tempo, esteve reservada aos que dispunham de maior flexibilidade financeira. De acordo com um relatório da Deloitte, o BNPL apresenta uma taxa de crescimento anual composta projetada de 43,8% até 2030. Este dado confirma que o parcelamento está a ganhar terreno como opção de pagamento preferencial, sobretudo em contextos onde o acesso ao crédito tradicional se tornou mais restrito.

Ao permitir pagamentos faseados, o parcelamento dá ao consumidor a capacidade de suavizar o impacto financeiro de uma compra, adequando-a ao seu fluxo de rendimentos. Em vez de comprometer o orçamento de um único mês, é possível distribuir esse esforço ao longo do tempo, juntamente com a utilização do bem ou do serviço adquirido, tratando-se, então, de uma verdadeira ferramenta de autonomia e previsibilidade.

Mas não é apenas o consumidor que beneficia desta abordagem. Também quem vende tem a ganhar, recebendo o valor da compra de forma imediata, reduzindo os riscos e complexidade, e podendo oferecer aos seus clientes uma experiência de compra mais fluida e adaptada às suas necessidades. De acordo com o Banco Central Europeu, a restrição no acesso ao crédito ao consumo tem levado os consumidores a procurar soluções mais flexíveis e menos dispendiosas, e o BNPL posiciona-se como uma dessas alternativas.

Num momento em que o acesso ao crédito tradicional continua a ser um obstáculo para muitos, soluções de parcelamento simples, claras e transparentes representam uma alternativa responsável. Estas não promovem o consumo impulsivo, mas sim o consumo planeado, especialmente entre os mais jovens, que valorizam a previsibilidade e o controlo.

A liberdade financeira começa com a liberdade de escolha. E, hoje, escolher a forma como se paga, nomeadamente de forma parcelada, é mais do que uma tendência: é uma expressão de maturidade financeira, um sinal de que os consumidores querem controlar os seus gastos, gerir melhor os seus recursos e fazer compras com maior confiança e autonomia.

Esta evolução reflete uma mudança estrutural nas expectativas dos consumidores que procuram soluções mais adaptadas às suas realidades económicas, e mais próximas da sua lógica de utilização e rentabilização dos bens e serviços. O parcelamento ajusta-se precisamente a esse novo perfil: proporciona fluidez no momento da compra, previsibilidade nos encargos e maior segurança na tomada de decisão.

Numa altura em que se valoriza a transparência, a simplicidade e a adaptação às circunstâncias de cada pessoa, disponibilizar alternativas ao pagamento imediato ou ao crédito tradicional é responder com responsabilidade às dinâmicas atuais do mercado. E é também assumir um compromisso com o acesso equilibrado e consciente ao consumo — não através do incentivo ao endividamento, mas através de modelos que respeitam a lógica do planeamento financeiro pessoal.

Promover o acesso a soluções que concretizem esta liberdade é, por isso, não apenas uma inovação, mas uma necessidade – tanto para o mercado como para a sociedade. É abrir espaço para uma economia mais inclusiva, onde todos, independentemente do seu momento de vida ou capacidade de liquidez imediata, possam tomar decisões informadas e sustentáveis. Trata-se de contribuir ativamente para um ecossistema mais justo, mais eficiente e mais orientado para a real liberdade financeira de cada cidadão.

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