Cumprem-se dez anos sobre a morte da minha Mãe. Parece que foi ontem – como o tempo voa e muitas vezes nem nos damos por isso. A memória da minha Mãe tem estado presente em cada dia destes dez anos, com a recordação da tranquilidade do seu sorriso e das suas palavras A minha Mãe tinha da vida um sentido único de confiança e de esperança e estar com a minha Mãe era a certeza de se estar bem com a vida. Vivemos um tempo em que mais do que nunca precisamos de ganhar a batalha de uma sociedade tranquila. A sociedade em que a minha Mãe acreditava e cuja referência tem estado presente ao longo destes dez anos.A minha Mãe era uma pessoa simples. Simples nos gestos, nas palavras, na forma de abordar os problemas, na forma de construir e partilhar ideias com os outros. Tive a sorte de ter a minha Mãe como professora nos primeiros anos de escola e a simplicidade dos seus ensinamentos marcou muito a minha infância. A minha Mãe foi professora durante muitos anos e fazia da escola uma comunidade aberta, de partilha permanente de conhecimento e de construção de contextos sólidos de solidariedade positiva entre alunos e pais. A minha Mãe acreditava muito na força duma sociedade aberta, aquela de que nos fala Karl Popper, e que é a base da afirmação da criatividade individual e da capacidade coletiva de uma sociedade que se quer moderna e positiva.A minha Mãe era uma pessoa de confiança. Olhar para a minha Mãe, falar com a minha Mãe, fazer parte dos sonhos e das ideias da minha Mãe era dar sentido permanente à importância da palavra confiança. Acredito como acreditava a minha Mãe que sem um verdadeiro contrato de confiança não podemos aspirar a ter uma sociedade aberta e moderna, onde o indivíduo se sinta útil e a dimensão do futuro seja um desafio permanente, como John Locke tão bem defendia. A minha Mãe gostava de confiar e de partilhar com os outros a sua enorme crença numa sociedade justa e solidária, onde todos possam aspirar ao ideal da felicidade humana.A minha Mãe acreditava num mundo melhor e procurou ao longo da sua vida em cada ato do dia a dia mostrar que o que fazemos, enquanto pessoas e enquanto sociedade, pode ser mais diferente e mais positivo. A minha Mãe sempre me disse que importa sermos ambiciosos na vontade de fazermos melhor e de conseguirmos construir as pontes que consideramos vitais para a nossa realização pessoal. Mas também sempre me disse que a ambição tem que ser um exercício inteligente, onde saibamos mobilizar os outros de forma colaborativa para aquelas que são as nossas ideias e as nossas propostas de solução.A Minha Mãe acreditava no futuro. Com a sua partida, a minha vida ficou muito mais vazia nestes dez anos. Deixei de ter a alegria permanente da sua presença física, das suas palavras de confiança, da sua convicção nas suas ideias. Sem a minha Mãe os meus dias e as minhas noites passaram a ser muito mais vazios. Mas apesar da sua partida a minha Mãe continua presente em cada dia e em cada noite da minha vida. Dez anos depois, a memória da minha mãe continua mais viva do que nunca.