As empresas familiares continuam a ser dos nossos maiores ativos

Publicado a

As empresas familiares representam, segundo as estimativas mais recentes da Associação Portuguesa de Empresas familiares, cerca de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. No mesmo sentido, são responsáveis por cerca de 50% do total de empregos e constituem, segundo os mesmos dados, 70% a 80% do total de empresas existentes no nosso país. Ora, num território em que o crescimento económico continua a ficar-se por um potencial que é dificilmente alcançado, ano após ano, não deixa de ser curioso que a generalidade das pessoas se refira às empresas familiares como se elas não fossem suficientemente boas.  Uma ideia que advém, talvez, do facto de termos na ideia que as empresas familiares são quele café de bairro ou a oficina da esquina - que, ainda assim, nos safou tantas vezes. E não estamos errados: esses pequenos negócios são uma parte muito relevante do tecido empresarial nacional. Mas aquilo de que nos esquecemos, não raras vezes, é que muitas empresas familiares portuguesas são também responsáveis por uma grande fatia da nossa geração de riqueza. A Sonae, dona de marcas como o Continente e a Worten é uma empresa familiar, hoje nas mãos dos herdeiros de Belmiro de Azevedo - e, no ano passado, registou um volume de negócios a rondar os 10 mil milhões de euros. Já a Jerónimo Martins, fundada pela família Soares dos Santos, que continua na liderança, fechou o ano passado com um volume de negócios superior a 30 mil milhões de euros.

A empresa é dona do Pingo Doce e do Recheio. A Delta, hoje liderada por Rui Miguel Nabeiro,  gera mais de 500 milhões de euros, enquanto a BIAL, reconhecida internacionalmente por estar sempre na vanguarda da inovação farmacêutica, fechou 2024 com mais de 200 milhões de euros de volume de negócios. Aos números devem ainda juntar-se os projetos de inovação social, onde por norma estas empresas são particularmente ativas, e a cuja área alocam uma parte significativa do seu investimento. 

 Nesta edição, trazemos uma entrevista ao CEO da Riberalves, outra empresa familiar, hoje transformada em grupo, que em 40 anos passou de uma mercearia no centro de Torres Vedras para um grupo que fatura mais de 200 milhões de euros e que exporta para 20 países, empregando 600 pessoas.  Uma das questões para as quais o responsável da empresa chamou a atenção, na conversa que teve com o Dinheiro Vivo, foi para o facto de este tipo de organização precisar de ajuda externa, sobretudo quando chega ao momento da sucessão: pedir auxílio a entidades independentes, criar um conselho com pessoas de fora da  família, garantir que os interesses da empresa são postos acima de quaisquer sentimentos que, inevitavelmente, advêm quando as empresas estão nas mãos de pessoas ligadas pelo sangue.

 A prática, perfeitamente disseminada em outros países, parece ser ainda uma espécie de tabu aqui no nosso pequeno retângulo, onde muitas empresas familiares acabam mesmo por encontrar o seu fim após um processo de sucessão mal gerido. Um estudos sobre as empresas nacionais elaborada pela Ordem dos Economistas da Madeira e pela PWC, em 2022, dava conta de que apenas 15% das empresas familiares nacionais tinham um plano de sucessão assegurado - um número que compara muito mal com a média europeia de 60%.

  E apesar de poder parecer um mal menor, certo é que se queremos mesmo alcançar o potencial de que tanto se fala - e se todos os especialistas o identificam, ele deve realmente existir - temos de começar a corrigir todas estas questões que nos fazem continuar a ficar para trás na corrida às mais robustas economias da União Europeia.

Diário de Notícias
www.dn.pt