No ano em que se celebra o 10º aniversário do Acordo de Paris, o mundo prepara-se para a COP30, a decorrer daqui a poucos dias, em Belém, Brasil. A realização desta conferência, pela primeira vez na Amazónia, deveria conferir ao evento um simbolismo especial. Contudo, este é gravemente comprometido pela decisão do governo brasileiro de, há poucas semanas, ter aprovado licenças de perfuração e exploração petrolífera junto à foz do rio Amazonas - uma contradição que resume bem o estado atual da ação climática global. A última década foi de progresso misto. Apesar de avanços notáveis, como o aumento da energia renovável, a mudança para formas mais sustentáveis de transporte, novas tecnologias de mitigação, as emissões globais são hoje mais elevadas do que há 10 anos. De acordo com o Emissions Gap Report (2025), as políticas atuais colocam o mundo no caminho para 2,8ºC de aquecimento, caindo para 2,3-2,5ºC se os governos implementarem totalmente as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Para manter o limite de 1,5ºC, as emissões deveriam estar já em declínio acentuado. Em vez disso, 2024 foi o ano mais quente registado. Neste contexto alarmante, os principais temas da COP30 são: (i) NDCs; (ii) Financiamento climático; (iii) Fundo de Perdas e Danos; (iv) Objetivo Global de Adaptação. Os países devem apresentar planos climáticos atualizados com metas mais ambiciosas para 2035. Para já, apenas 69 países submeteram as suas NDCs, incluindo a China, o maior poluidor mundial, que se comprometeu pela primeira vez com reduções em termos absolutos, embora consideradas insuficientes. Particularmente crítico é o facto de os EUA, segundo maior emissor mundial, estarem fora do Acordo de Paris e sem representação da Administração na conferência. O financiamento climático é tema central. A COP29 estabeleceu o Novo Objetivo Quantificado Coletivo: 1,3 biliões de dólares anuais até 2035, com meta mínima de 300 mil milhões anuais para apoiar países em desenvolvimento, nomeadamente no apoio à transição para a energia limpa. O compromisso anterior de 100 mil milhões anuais foi atingido apenas em 2022 – dois anos depois do prazo – evidenciando a enorme ambição dos valores agora em cima da mesa. A COP30 verá também o lançamento da primeira chamada do Fundo de Perdas e Danos, com 250 milhões de dólares iniciais, para países vulneráveis afetados pelos impactos climáticos, e a finalização de indicadores para o Objetivo Global de Adaptação, permitindo aos países avaliar capacidade de adaptação, resiliência e vulnerabilidade. A solidariedade internacional que levou ao Acordo de Paris há uma década enfraqueceu. As tensões geopolíticas, as guerras comerciais, os interesses instalados nos combustíveis fósseis, os cortes substanciais na ajuda ao desenvolvimento têm corroído ainda mais a base para a cooperação global sobre as alterações climáticas. Belém dirá se o multilateralismo climático sobrevive ou se os interesses de curto prazo prevalecerão sobre a sobrevivência coletiva.