A semana passada tive um colega no gabinete para tratar de um projeto em que estamos a trabalhar. Resolvida a questão, ficámos à conversa. Não sei o que se passa com o meu ouvido, os joelhos já não são o que eram, ai estas costas, sexta-feira lá vou ao médico outra vez … Coisas de quem não está a ficar mais novo. Depois, ele deitou as mãos à cabeça e declarou-se farto: só se fala de … [o leitor faça o favor de inserir aqui uma daquelas palavras que se usam no Porto]. Ele é a festa dos hambúrgueres, é o Mourinho no Benfica, é o ….Lembrei-me do Fradique. Em 1900, já do túmulo, pela voz de Fradique Mendes, Eça de Queirós culpava os jornais pelo baixo nível da discussão pública. A um amigo que se propunha criar um jornal, dizia Fradique: “tu vais concorrer para que no teu tempo e na tua terra se aligeirem mais os juízos ligeiros, se exacerbe mais a vaidade, e se endureça mais a intolerância. Juízos ligeiros, vaidade, intolerância – eis três negros pecados sociais que, moralmente, matam uma sociedade. (…) E quem nos tem enraizado estes hábitos de desoladora leviandade? O jornal…” Quem nos dera o jornal! Que diria Fradique/Eça se conhecesse as redes sociais? Que diria se soubesse que os senhores do mundo, o que pinta o cabelo de cor-de-laranja e o que o pinta de preto, se preparam para reunir em cimeira para discutir o TiK-Tok?!Assuntos ponderosos não faltam. Refiro só dois. Ligeiramente, que isto é um jornal. Entre agosto e meados de setembro, foram anunciados na Alemanha 125 mil despedimentos industriais. No setor automóvel, na siderurgia, nas tecnológicas, mas também nos transportes, nos correios e por aí adiante. 125 mil é assim como toda a população do concelho de Odivelas ou de Guimarães. Toda. Num mês e meio. Costuma-se dizer que com o mal dos outros podemos nós bem. Mas a Alemanha é o segundo destino das exportações portuguesas. Os ventos que sopram da Alemanha já cá se sentem em vários setores: reduções de atividade, fábricas a fechar mais ou menos discretamente. Com as economias de outros grandes mercados das exportações portuguesas, como a França e o Reino Unido, engasgadas e com o acesso ao mercado americano dificultado, os próximos tempos prometem emoções fortes.Entretanto, a Inteligência Artificial está a mudar o mundo. Há quem pergunte onde é que está a evidência da revolução. Por todo o lado, diria eu. Na minha atividade, o Ensino Superior, por exemplo. Há três anos, ninguém tinha ouvido falar do assunto. Agora, nenhum aluno estuda sem recorrer às ferramentas de IA. Muitos já só estudam assim. E nós, professores, estamos “à toa” a tentar perceber o que ensinar e como ensinar a pessoas que têm na mão uma caixinha que dá acesso instantâneo a todo o conhecimento humano. Vale a pena tentar? Um estudo americano recente conclui que, desde 2022, os empregos para jovens nas profissões mais expostas à automatização pela IA já caíram 13%.Mas, agora a sério: o que é que acham do Mourinho no Benfica? Viram o Ferrari em que ele chegou ao Seixal?!