Em termos gerais, pouco mudou em termos de perspetivas económicas globais em relação ao que tínhamos no final de julho. Um ecossistema internacional que, no geral, continua a resistir aos principais riscos causados pelo duplo golpe das tarifas e da incerteza dos EUA, e também a uma frente geopolítica que persiste na Europa e no Médio Oriente. Certamente alguns fatores mostraram alguma evolução, e agora que estamos a caminho do último trimestre do ano alguns fatores merecem atenção para inferir o que pode ser o resto de 2025. Ou seja, em jeito de balanço, o que podemos tirar dos desenvolvimentos deste verão e o que devemos monitorar neste outono?Desde logo, o braço de ferro tarifário entre Estados Unidos e Europa é uma variável em aberto. Entre os desenvolvimentos mais recentes na política tarifária dos Estados Unidos destaca-se, a 27 de julho, o acordo celebrado com a União Europeia, que encerrou um capítulo, mas deixou claro que o processo está longe de terminado. Poucos dias depois, a 1 de agosto, foi divulgada uma nova lista de tarifas “recíprocas”, que trouxe alguma visibilidade quanto ao nível dos direitos aduaneiros, embora muitas questões permaneçam em aberto. Na prática o acordo retirou o espectro de uma guerra comercial de cima da mesa – o que foi bem recebido pelos mercados financeiros – mas o impacte e incertezas relacionadas com o processo serão apenas visíveis mais pelo Outono, e isso poderá marcar economicamente o resto do ano.Outra variável a ter em conta tem a ver com a política monetária. Nos Estados Unidos, a Reserva Federal parece estar preparada para uma descida de taxas, que poderá até acontecer na reunião de 16 e 17 de setembro. O presidente da Reserva Federal, JeromePowell deixou a entender que esta alteração pode verificar-se, como resposta a riscos deabrandamento do mercado de emprego norte americano. Ao mesmo tempo, do lado de cá do atlântico, o Banco Central Europeu parece estar preparado para suspender o ciclo de descidas de taxas de juro, assente numa recuperação de leituras na atividade, e sobretudo num momento onde a inflação aparenta estar controlada. Estes são também dois fatores que podem e devem merecer atenção nas próximas semanas.Por fim, mas não menos importante, até onde durará a estabilidade dos mercados financeiros de risco? A bolsa norte-americana continua a ser impulsionada pelo entusiasmo em torno da tecnologia e da inteligência artificial, mantendo-se pouco sensível a notícias económicas menos favoráveis e ajudando a sustentar estimativas otimistas para o futuro. Também nos mercados de divida, as emissões de crédito permanecem estabilizadas. Ainda assim, o risco de uma correção inesperada não está excluído. O endividamento das maiores economias tem vindo a aumentar, e isso tem sido visto já em alguns sinais nas emissões de divida publica, e que pode influenciar o comportamento dos mercados negativamente. Também o preço relativamente baixo do petróleo tem sido fator positivo, mas que pode mudar, dado que é vulnerável a tensões geopolíticas. O fim do verão será por isso, economicamente, pleno de fatores e eventos que podem mudar a tonalidade do ano. Tarifas e geopolítica, política monetária e sustentabilidade do atual clima dos mercados financeiros irão manter-se como temas interessantes para acompanhar.