Estabilidade e ambição

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O ano de 2026 apresenta-se como um ponto de inflexão para a economia global e nacional, em que a capacidade de adaptação determinará quem prospera.

A nível mundial, a reconfiguração das cadeias de abastecimento permanece no topo das prioridades. A dependência excessiva de geografias específicas revelou-se uma fragilidade crítica, e as empresas terão de equilibrar eficiência com resiliência, incluindo diversificação estratégica. Simultaneamente, a transição energética acelerou, mas enfrenta o desafio de conciliar ambição climática com competitividade industrial, particularmente face às tensões geopolíticas que continuam a influenciar os preços da energia.

A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista para se tornar um imperativo competitivo. O desafio, em 2026, não será apenas adotar estas tecnologias (e começa a ser mandatório que as empresas o façam), mas fazê-lo de forma ética e inclusiva, garantindo que a produtividade ganha se traduza em prosperidade partilhada e não em receio e desigualdades.

Para Portugal, os desafios são particularmente exigentes. A escassez de talento qualificado intensifica-se, exigindo reformas profundas no sistema educativo e políticas mais agressivas de atração e retenção. O país precisa de transformar o seu tecido empresarial, apoiando o crescimento de empresas inovadoras e de base tecnológica que possam competir globalmente, não apenas em custo, mas em valor acrescentado. É preciso dar às empresas meios e incentivos para conseguirem providenciar salários competitivos; numa era em que se trabalha do conforto das nossas casas para qualquer parte do mundo, torna-se cada vez mais real que Portugal compete com economias externas.

A captação de investimento estruturante, que crie empregos qualificados, e não apenas centros de serviços partilhados, será crucial. Portugal tem de aproveitar a janela de oportunidade dos fundos europeus para investimentos transformadores em infraestruturas digitais, mobilidade sustentável e economia circular.

O maior desafio, contudo, é de mentalidade: substituir o conforto da previsibilidade por ambição, abraçar o risco calculado do empreendedorismo e construir um ecossistema onde falhar e recomeçar seja visto como aprendizagem, não estigma. Em 2026, a economia portuguesa joga-se na sua capacidade de ser verdadeiramente competitiva num mundo que não espera por ninguém.

Presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal

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