Na semana passada, os mercados continuaram a focar-se menos em manchetes isoladas e mais nas duas variáveis que têm orientado 2025: o ritmo de crescimento económico e a trajetória dos juros nos EUA. A decisão da Fed desta semana está a ser encarada como o último grande evento de risco do ano, e a convicção de que o banco central poderá avançar já com um corte na taxa de referência atingiu níveis raramente vistos. Segundo o Polymarket, a probabilidade de corte ronda os 95%, o que tem sustentado o apetite pelo risco e mantido os principais índices americanos perto dos máximos históricos. No lado dos dados, o ISM Manufacturing a voltou a evidenciar contração, com o índice PMI em 48,2 (uma leitura abaixo dos 50 indica contração) e empresas a destacarem que a incerteza comercial e as tarifas continuam a condicionar encomendas e investimento. O relatório ADP reforçou essa leitura ao mostrar uma queda inesperada no emprego privado, sugerindo que o mercado laboral está a perder alguma tração. Este tipo de sinal volta a colocar os investidores no padrão em que “más notícias são boas notícias”, já que uma economia a abrandar suaviza a pressão sobre a Fed e abre espaço a política mais acomodatícia. Embora os números não apontem para deterioração abrupta, revelam uma economia que avança, mas sem o mesmo ímpeto de meses anteriores. Para os mercados, o conjunto destes indicadores reforça a perceção de que a Fed terá margem para cortar juros caso esta tendência de abrandamento industrial e laboral se mantenha, ao mesmo tempo que reduz o risco de um cenário de inflação persistente. O resultado é um ambiente em que os investidores continuam a privilegiar ativos de risco, mas com maior consciência de que a narrativa económica depende cada vez mais do equilíbrio entre o mercado de trabalho e a inflação.