Lucros sobem, famílias endividam-se, mas...

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Numa semana marcada pela apresentação de resultados de uma parte significativa de empresas do PSI 20, os lucros fizeram notícia praticamente todos os dias. O que é uma ótima notícia, porque resultados líquidos positivos levam a uma economia mais dinâmica e a contributos mais musculados das empresas que atuam no nosso país. Não deixa, por isso, de ser curioso que, tal como referia o editorial da edição de ontem, dia 31 de julho, do Diário de Notícias, os portugueses sejam muito rápidos a criticar os lucros das organizações, como se houvesse uma relação direta entre aquilo que as empresas ganham e a menor quantidade de dinheiro que sentem ter no bolso.

O que é compreensível, numa altura em que tudo parece contribuir para que a vida das famílias seja mais difícil: apesar do abrandamento da inflação, o preço do cabaz de bens essenciais continuou a aumentar - com a DECO a dar conta de que está 13 euros mais caro do que na mesma altura do ano, em 2024. Os 63 produtos que incluem o conjunto analisado semanalmente pela associação que defende os direitos do consumidor custam, agora 239,35 euros. Há cerca de duas semanas, o Expresso escrevia que os portugueses são os que atualmente, na União Europeia, mais gastam em alimentação: fomos os terceiros que mais despenderam entre os 27, em média, em alimentação, num total de €3314 por pessoa, e por ano, em termos nominais, ou seja, o dinheiro efetivamente gasto, sem descontar a inflação, segundo dados do Eurostat. A instituição europeia dava ainda conta de que os portugueses perderam efetivamente poder de compra, com os produtos a encarecer em território nacional acima da média do UE.  

No mesmo sentido, dados recentes do Banco de Portugal mostram que o endividamento das famílias portuguesas chegou aos 164 mil milhões de euros, acima dos máximos de dezembro de 2011, quando estávamos em plena crise da dívida.

A juntar-se a estes dados, a habitação continua a consumir muitos recursos - se bem que o alívio dos juros acabou por facilitar a vida a muitos agregados, nos últimos meses. Mas a verdade é que tudo isto parece meio desequilibrado. E talvez esteja. Mas o que é certo é que não é por as empresas terem menos lucros que vai ficar diferente, ou melhor.

O discurso demagógico que se ouve demasiadas vezes, de que as empresas que têm lucro são as culpadas de todos os males do mundo, faz com que se agrave um sentimento de injustiça num país que já é pouco amigo de negócios de sucesso - desde as burocracias aos impostos, passando pela opinião pública.

E desengane-se, caro leitor: empresas que não geram resultados líquidos, não geram riqueza. Não contribuem com a criação de postos de trabalho e não ajudam em nada a economia, bem pelo contrário.

Assim, neste primeiro dia de agosto, e na certeza de que muitos dos vós estão a ir de férias - e outros tantos a regressar - fica o meu desejo para que, durante a chamada ‘silly season’, pensemos em formas de, todos juntos, conseguirmos remar para o mesmo lado, conseguindo que empresas e famílias garantam resultados positivos no final de cada ano - de cada trimestre, de cada semestre. Porque não é tirando a uns para dar aos outros que faremos melhor. É, todos juntos, por que todos tenhamos um bom quinhão da riqueza do país.

Diário de Notícias
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