Melhorar a qualidade do crescimento, mais do que acelerar

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Portugal e o mundo chegam a 2026 com uma questão central: como alcançar um crescimento económico mais robusto e inclusivo num contexto económico e geopolítico instável. As perspetivas macroeconómicas continuam marcadas por elevada incerteza, mas revelam também uma capacidade de adaptação que tem permitido evitar cenários mais adversos.

O Fundo Monetário Internacional estima que o crescimento económico mundial ronde 3,1% em 2026, abaixo da média histórica de 3,7% anterior à pandemia. Este abrandamento reflete um mundo mais fragmentado, sujeito a choques geopolíticos frequentes e a um menor dinamismo do comércio internacional. É claramente um cenário de crescimento limitado. Para Portugal, o enquadramento é semelhante: as projeções do Banco de Portugal apontam para um crescimento de cerca de 2,0% em 2025, com uma ligeira aceleração para 2,3% em 2026 - um desempenho favorável no contexto europeu, mas ainda insuficiente para assegurar uma convergência rápida com os níveis de rendimento das economias mais avançadas.

Os desafios para 2026 são conhecidos e interligados. A incerteza económica continua a penalizar o investimento. As forças divergentes que hoje moldam a economia global estão associadas a mudanças estruturais nos padrões de comércio, investimento e organização das cadeias de valor. Estas mudanças tornam também mais visíveis as dificuldades de coordenação internacional, num contexto em que os interesses dos principais blocos económicos se afastam e a competição estratégica se intensifica.

A estes fatores juntam-se novos desafios. A Inteligência Artificial e a digitalização tornam os serviços mais transacionáveis, ao mesmo tempo que reduzem a importância da arbitragem salarial. A intervenção do Estado regressa, com tarifas, subsídios, controlos à exportação e incentivos ao reshoring mais frequentes.

O comércio internacional cresce menos do que no passado e com maior incerteza. Quase metade do crescimento recente tem sido impulsionado por serviços e produtos digitais. A economia digital recompensa escala, talento e infraestrutura, deixando muitos países menos preparados para competir.

Em Portugal, estes desafios assumem uma dimensão importante. A produtividade e os salários permanecem baixos. O desafio não é apenas acelerar o crescimento, mas melhorar a sua qualidade. A experiência internacional mostra que economias que investem de forma consistente em competências, tecnologia e capacidade produtiva conseguem transformar contextos exigentes em oportunidades de progresso duradouro.

Num mundo mais incerto, crescer menos pode ser inevitável. Crescer melhor é uma escolha. Quando o crescimento assenta em aprendizagem, inovação, capacidade de adaptação e coesão social, mesmo ritmos mais moderados podem traduzir-se em ganhos duradouros de bem-estar e resiliência económica. Que 2026 marque essa viragem.

Economista-chefe adjunta do Banco Mundial; Professora da Universidade Católica Portuguesa

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