A um ritmo lento e desigual, arrasta-se um dos maiores programas de investimento público da história recente do país, o Plano de Recuperação e Resiliência. As pequenas e médias empresas (PME), que deviam ser protagonistas, continuam reféns de barreiras burocráticas desproporcionadas, numa altura em que o país já devia ser capaz de responder com agilidade aos desafios do presente e às exigências do futuro.O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) entra no seu último ano de execução e, apesar de alguns avanços, dois terços dos investimentos continuam em risco. Não é por falta de interesse, nem por falta de projetos válidos, mas porque, no meio de anúncios semanais e novas medidas, a execução efetiva continua atrasada e incerta, o que impede o investimento de chegar onde é, precisamente, mais necessário.Os apoios existem e, em teoria, o PRR foi desenhado para transformar a economia portuguesa. Mas entre o que se promete e o que se executa, continua a existir um enorme fosso, sobretudo para quem está no terreno e tenta fazer acontecer.O problema não está nos apoios, muito menos nas candidaturas. O principal obstáculo reside na complexidade dos processos, na morosidade das respostas, na instabilidade dos critérios e na fragmentação da informação. Navegar na burocracia tornou-se um desafio para qualquer PME que procure, no PRR, uma alavanca para crescer, inovar ou tornar-se mais competitiva. E quanto mais pequena é a empresa, maior é o peso do processo. Afinal, a quem se destina este plano se quem mais precisa continua de fora?As recentes aprovações de instrumentos financeiros destinados a facilitar o acesso das PME, em condições mais favoráveis, ao financiamento bancário e a apoiar a inovação e competitividade, representam um passo positivo, mas chegam tarde e isolados. A raiz do problema permanece e os mecanismos continuam a ser concebidos como se houvesse margem de manobra, quando, na realidade, o que falta é capacidade de concretização. A verdade é que não basta desbloquear mais verbas, é preciso desbloquear o sistema.Este trabalho baseia-se numa proposta de valor clara: simplificar o que está desenhado de forma complexa, antecipar obstáculos e garantir que as empresas sabem em que momento do processo se encontram e o que precisam de fazer para ultrapassar as dificuldades. Num contexto de grande ruído e pouca previsibilidade, é essencial ter ao lado alguém que conhece o caminho. Os fundos não constituem um fim em si mesmos, mas sim um meio para os atingir. E o verdadeiro desafio está em fazer com que esse meio funcione.Por mais que o setor privado se mobilize, as dificuldades permanecem e a data-limite está, dia para dia, cada vez mais próxima. É urgente que as entidades públicas simplifiquem os processos, estabilizem regras e assegurem decisões em tempo útil. A transparência e a proximidade face aos investidores devem deixar de ser exceção para passar a ser regra. O tempo das promessas já acabou. Para que o PRR deixe uma marca positiva no futuro do tecido empresarial em Portugal, é crucial passar do plano à prática.Enquanto o País continuar a navegar na burocracia quezilenta, dificilmente vamos ser capazes de aplicar o investimento, que podia fazer uma enorme diferença, às empresas, às pessoas e ao país.O PRR é uma oportunidade que dificilmente se irá repetir. É neste momento que o país precisa de mais execução e menos dispersão. De menos ruído e mais voz de comando. De menos burocracia e de mais transparência e proximidade. Estas são condições essenciais para que qualquer plano de recuperação tenha um impacto real na economia portuguesa.