Não havia necessidade

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O capitalismo, tendo o mercado como mecanismo central, é um sistema em constante renovação, mais instável do que em equilíbrio. Numa perspetiva histórica, e agregada, nenhum outro sistema conseguiu um desempenho melhor. Quando se analisa mais em detalhe, essa dinâmica esconde ganhadores e perdedores, pelo menos no curto prazo e, como “no longo prazo estamos todos mortos”, é natural que os efeitos mais imediatos ganhem maior evidência. O prémio Nobel deste ano foi atribuído a economistas que estudaram tal “destruição criadora”, como o do ano passado o fora a quem analisou o papel das instituições na facilitação do progresso e da equidade.

Às vezes as empresas desaparecem por razões menos virtuosas do que a destruição criadora. Por exemplo, por a produtividade ser baixa devido à fraca qualidade dos fatores de produção (gestão incluída). Numa economia aberta pode acontecer que nem a qualidade da gestão ou dos fatores seja suficiente para garantir a sobrevivência da empresa. As estatísticas refletem este processo: todos os anos desaparece e nasce um grande número de empresas. Numa perspetiva jornalística, por as primeiras tenderem a ser maiores, o encerramento de uma empresa pode ser notícia, por exemplo pelo número de pessoas que perdem o emprego. Pelo contrário, a criação de uma empresa raramente merece referência. Por alguma razão o fado é a canção nacional…

O eventual fecho de empresas é, pois, algo inerente ao funcionamento da economia de mercado. O que já não é natural, nem aceitável, é a forma como alguns desses encerramentos ocorrem: sem pré-aviso, com desvio de máquinas e equipamentos e outras habilidades, mais ou menos, fraudulentas como a concorrência desleal que, em muitos casos, essas empresas, no seu estertor, praticam. No capitalismo a confiança, a transparência e a prestação de contas (“accountability”), e não a lei da selva, são pilares do bom funcionamento dos mercados. As falências selvagens, mesmo quando são a exceção, violam as regras da concorrência e ignoram os custos humanos, contribuindo para denegrir a imagem das empresas. As associações empresariais deviam ser as primeiras a condenar tais práticas. Deviam…

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