O némesis da Economist

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A distinção da revista The Economist foi, em si mesmo, uma óptima notícia para Portugal. Especialmente na perspetiva externa, é uma medalha que confere prestígio internacional à nossa economia e desperta a atenção dos mercados, reforçando a atração de investimento. Mas convém, como de resto fez o ministro Castro Almeida, não embandeirar em arco, dado que se trata de uma análise demasiado conjuntural e que não reflete a realidade económica nacional no longo prazo.

Nem de propósito, e funcionando quase como o Némesis da revista inglesa, o INE publicou, a meio do mês, dois estudos que demonstram as fragilidades estruturais que a nossa economia enfrenta há décadas. No primeiro caso, trata-se da análise ao PIB per capita de 2024, expresso em Paridades de Poder de Compra (ppc), que coloca o nosso país na 18ª posição, com 82,4% da média europeia. A taxa reflete uma subida interessante (1,3%) face a 2023, mas ainda assim bastante próxima dos valores de 1995 (81,2%), o que confirma a estagnação das condições de vida dos portugueses nos últimos 30 anos e desmente uma convergência real com a UE.

O segundo estudo do INE expressa uma outra preocupação estrutural do nosso país: a falta de coesão territorial. Mais uma vez, a Grande Lisboa é a única região que compara favoravelmente com a média europeia no indicador de PIBppc (128,9%), enquanto o Norte se fica pelos 70,8%, o Algarve nos 89,2% e a Madeira em 88,3%. Mesmo a nível interno, apesar de um ligeiro encurtamento de distâncias, a região metropolitana da capital distancia-se em quase 57% da média nacional no PIB per capita, refletindo os enormes desequilíbrios existentes.

Sem desmerecer a análise da The Economist, estes indicadores traduzem uma imagem de Portugal mais realista: uma economia marcada pela falta de competitividade e pelo atraso estrutural que existe em diversas regiões, onde o rendimento disponível e o consumo das famílias se aproximam mais da Albânia do que de Lisboa. Sobre isto, é que importa discutir seriamente, desde logo evitando anátemas ideológicos – como o recente debate sobre o pacote laboral – que apenas servem para perpetuar desigualdades e instalar o imobilismo na nossa sociedade.

Se posso formular um desejo económico para 2026, que seja este: o de vivermos num país mais competitivo, menos desigual e mais próximo da Europa. Esse sim, seria o prémio que faria a diferença.

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