Os três riscos no mapa económico do resto do ano

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A economia está a dar alguns sinais de melhorias. Fora dos Estados Unidos, o crescimento do PIB no primeiro trimestre superou, em geral, as expectativas na União Europeia, no Reino Unido e nas economias emergentes, incluindo a China. Após o aumento das importações que antecedeu a subida das tarifas nos EUA, o recuo no segundo trimestre será, na maioria dos casos, mais limitado do que o inicialmente previsto. No entanto, seria prematuro declarar o fim dos riscos, pois três perigos persistem: tarifas, inflação e dívida pública.

Numa primeira linha, a frente geopolítica. A poucos dias do fim do mais recente prazo definido pelo Presidente Trump para alcançar “acordos”, existe uma possibilidade real de que as tarifas base para a maioria dos países, incluindo a União Europeia, fiquem significativamente acima dos atuais 10%. Além disso, ainda não foram anunciadas tarifas adicionais por sectores, o que aumentará ainda mais a taxa efetiva. Embora a eventual redução da incerteza tarifária seja positiva, tarifas mais elevadas, aplicadas de forma assimétrica entre países, criarão múltiplas fricções e obstáculos ao crescimento, que em alguns casos poderão ser demasiado grandes para serem compensados por medidas de apoio doméstico. Para além disso, tarifas mais altas aumentam a probabilidade de retaliação, o que poderá levar a uma escalada e causar danos adicionais ao crescimento. Os mercados bolsistas, que são avaliados com base num crescimento constante dos lucros, podem reagir de forma violenta.

Numa segunda linha, a inflação. Embora mais contida do que em 2022, as pressões dos preços começam a dar sinais de reaparecer nos EUA, agora alimentada pela transmissão dos efeitos tarifários para os preços internos. Os bens essenciais, excluindo veículos usados, registaram em junho a maior subida mensal desde a primavera de 2022. A Reserva Federal (Fed) está dividida: alguns defendem cortes nas taxas já na próxima semana, enquanto outros alertam para uma possível reaceleração inflacionista. Aqui, o risco não reside apenas nos números, mas na confiança dos mercados na independência da Fed. Se os ataques políticos persistentes à autoridade monetária norte-americana minarem essa confiança, o impacto pode ser imediato e violento, com repercussões nos mercados obrigacionistas e cambiais globais. E se os EUA espirram, o resto do mundo constipa-se.

Por fim, a evolução da dívida pública será um terceiro elemento de preocupação, e porventura o que está neste momento o que está a ser mais ignorado. Os mercados financeiros têm sido, até agora, tolerantes com os níveis históricos de endividamento dos EUA, do Reino Unido, do Japão e de França - com a notável exceção da Alemanha, que mantém a sua disciplina orçamental. No entanto, a subida das yields, especialmente nas maturidades a 30 anos, mostra que essa paciência pode ter limites. O exemplo do “mini-orçamento” da ex-primeira-ministra britânica Liz Truss, que abalou os mercados em 2022, deveria servir de aviso. Concluindo, é verdade que 2025 tem corrido melhor do que o previsto, mas esse otimismo não pode esconder os riscos que continuam bem presentes. Resta saber se a agenda geopolítica saberá não estragar aquilo que a economia, lentamente, começa a reconstruir.

*Economista, Presidente do International Affairs Network

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