Um destes dias, um jornal fazia mais um terrível diagnóstico do nosso sistema nacional de saúde (SNS). Num outro dia, sem especial relevo, noticiava-se uma classificação dos SNS em que o português ocupava a 5ª posição, atrás de três países nórdicos e do Reino Unido. Voltando à notícia inicial, a coisa vai ao ponto de se dizer que o SNS está à beira da rotura, sendo o fecho das urgências na Grande Lisboa o exemplo acabado.Mudando o foco para a educação, o relatório, da OCDE, Education at a Glance (2025) dá conta dos progressos de Portugal no ensino superior, com taxas de cobertura que evoluíram de 38% (2019) para 43% (2024), perto da média da OCDE. Contrariando uma imagem feita, o prémio salarial para os licenciados continua elevado: mais do dobro da média. No mesmo documento, reconhecem-se fragilidades, entre as quais a falta de professores e, sobretudo, a sua elevada idade média. Nada que nos surpreenda, em especial neste começo do ano letivo, dado o propalado número de alunos sem aula. A esse propósito, o ministro da Educação referiu que o problema se centra nas regiões de Lisboa e Algarve e resulta mais do desincentivo que o custo da habitação implica para os docentes deslocados, do que da falta de docentes a nível nacional.Ou seja, há dois sistemas em crise cujos problemas são muito mais severos na Área Metropolitana de Lisboa (AML). Há mais de 20 anos, alguns estudos sinalizaram as externalidades negativas que se começavam a tornar evidentes nessa área. Desde então a situação piorou, não apenas pelo reforço da macrocefalia, como pelo pior desempenho económico da AML que se tornou um lastro para o país, o que não dissuadiu os fanáticos do “desta vez é que vai ser” com que legitimam a drenagem sistemática de fundos para aquele território.Entretanto, o resto do país que só é notícia pelos incêndios e o encerramento de fábricas, vai fazendo pela vida. Com diz Paulo Fernandes, o autarca do Fundão, temos de ser solidários com Lisboa. Se mostrarmos que temos um sistema de saúde que funciona, educação de qualidade e habitação acessível, talvez comece a haver mais gente a querer vir viver, empreender, trabalhar nesse outro país. Quem sabe?