Que não nos falte energia
O apagão da rede elétrica no dia 28 de abril teve um impacto significativo na economia e na sociedade, expondo as fragilidades do sistema energético nacional.
Sem que ninguém tivesse previsto, durante várias horas milhões de pessoas, vários serviços (desde hospitais, escolas, sistemas de transporte e telecomunicações) e várias organizações, incluindo as empresas, ficaram sem eletricidade, afetando o seu normal funcionamento. De um modo geral, os “territórios pararam”, sinal da profunda dependência da sociedade moderna da energia elétrica para se manter a funcionar e, sobretudo, para manter a funcionar os serviços básicos e as infraestruturas críticas.
À data em que escrevo este artigo de opinião, ainda se desconhece o que verdadeiramente provocou o colapso energético. O que já se conhece é a magnitude do seu impacto, ainda que, nesta fase, em termos rigorosos, a avaliação possa ser apenas qualitativa.
No que à atividade empresarial diz respeito, os impactos negativos foram muito significativos, como deram conta os resultados do “Inquérito Flash da AEP sobre o Impacto Económico do Colapso Energético Ibérico”, realizado entre 29 de abril e de 2 maio. No primeiro dia, sublinho, tivemos a maior participação de sempre, em número de respostas, o que demonstra a pertinência do assunto. Muitas empresas viram interrompida a sua atividade durante longas horas, tendo-se registado uma duração média de interrupção de 10 horas, o que na indústria afetou, pelo menos, dois turnos. Por setor de atividade, e como seria de esperar, as indústrias transformadoras reportaram uma situação mais gravosa.
Os empresários prontificaram-se a apresentar várias propostas, no sentido de o país poder garantir o regular abastecimento de energia, com destaque para importância das seguintes vertentes: independência energética e autossuficiência; autoconsumo, com uso local da energia produzida; sistemas redundantes, black start e backup rápido; diversificação de fontes e reativação de infraestruturas; planeamento, contingência e coordenação institucional.
A falha na rede e a ausência de uma resposta automatizada eficiente merecem uma ampla reflexão e ação, pois o risco de esta situação voltar a repetir-se não é zero, segundo os especialistas. Olhe-se para o apagão não apenas como um colapso técnico, mas um alerta, que requer uma estratégia nacional adequada, pois o que está em causa - assegurar o regular abastecimento de energia elétrica - tem natureza estrutural.
Que não nos falte energia.
Luís Miguel Ribeiro, Presidente do Conselho de Administração da AEP - Associação Empresarial de Portugal