Reinventar a globalização

Publicado a

A perceção e graduação dos desafios que se colocam à economia nacional e mundial dependem sempre do ponto de observação e da sensibilidade de quem faz essa avaliação.

Dito isto, considero que há dois desafios principais que são transversais à economia mundial e nacional em 2026, os quais são o indispensável fim dos conflitos na Ucrânia e na Palestina. Não concebo o desenvolvimento económico desligado do desenvolvimento social. Sem a resolução destes conflitos não há crescimento do PIB, por maior que seja, que possa assegurar um futuro auspicioso em 2026.

Num segundo plano, colocaria para a economia mundial a capacidade de reinventar a globalização e o reforço do protagonismo das instituições multilaterais. Sem avanços nestas áreas todos os progressos são efémeros, dependentes dos egos e humores dos protagonistas do momento, o que condiciona o investimento e a confiança necessária para gerar mais riqueza.

Ainda no plano da economia mundial, e abarcando a economia nacional, salientaria a importância da educação, da literacia, da preparação dos cidadãos para saberem selecionar a informação e os factos em que alicerçam as suas decisões. A “desinformação” que resulta da multiplicidade de fontes e meios de interação, que não são o problema, mas o amplificam, constitui uma ameaça séria. Decisões tomadas por pessoas ou empresas que não estejam fundamentadas em diagnósticos corretos têm um custo económico e social muito elevado, que podem, no limite, por via do desapontamento, da frustração e da indignação das pessoas, conduzir ao questionar do modelo de democracia liberal, da liberdade individual, dos valores basilares das economias Ocidentais.

Como desafios específicos para a economia portuguesa salientaria o imperativo de maior ambição na geração de prosperidade, de modo que também as redes de apoio social possam sair reforçadas nos meios e não apenas nas palavras, bem como a relevância de se implementar com sentido de urgência a modernização administrativa e a reforma do Estado, que permitam reduzir custos de contexto, melhorar a eficiência das instituições, a produtividade das empresas e o bem-estar das famílias.

Não resisto a terminar com a primeira frase que li ao começar o dia: “Uma garantia certa de uma vida medíocre é uma vida vivida com medo.” Ousemos concretizar um Portugal mais próspero e inclusivo.

CEO do Millenium BCP

Diário de Notícias
www.dn.pt