Tensões geopolíticase desafios climáticos

Publicado a

A economia portuguesa terminou 2025 com um crescimento acima da generalidade dos seus pares na União Europeia, numa situação de quase pleno emprego e, previsivelmente, com as contas públicas razoavelmente equilibradas. Não obstante a performance positiva, conclusões mais definitivas exigirão uma análise mais aprofundada da comparação da performance de Portugal com os países europeus com grau de desenvolvimento comparável ao nosso e uma verificação do comportamento das contas externas.

A conjuntura favorável tem gerado receitas fiscais capazes de ultrapassar o aumento da despesa pública recorrente. Esta situação deveria ser aproveitada pelo Governo para fazer algumas reformas estruturais em áreas como a Justiça, Saúde e Educação. Uma gestão apenas focada no curto prazo levará a que o país pague a fatura mais à frente, quando a conjuntura se alterar.

Em 2026, o país deverá manter o seu crescimento económico, eventualmente a um ritmo mais modesto e sobretudo dependente da procura interna e dos fundos europeus, e com um menor contributo das exportações. A dificuldade que o país demonstra no incremento da produtividade e a continuação de uma significativa carga burocrática também contribuem para impedir um crescimento mais sustentável e a melhoria da qualidade do emprego. Portugal tem de saber continuar a crescer neste contexto, mas sem ficar demasiado dependente do consumo interno e sem gerar déficits externos significativos.

O próximo ano continuará, tudo indica, a experimentar alguma volatilidade, fruto das tensões geopolíticas e comerciais, mantendo alguma fragilidade nos mercados mais importantes para a economia nacional. Por outro lado, continuará a ser crítico quer para a transição energética quer para a aceleração da digitalização, exigindo das empresas e instituições investimentos contínuos e foco na inovação.

O grande desafio da Europa, no ano que agora se inicia, passará por saber compatibilizar a necessidade de uma inevitável transição energética com a preservação da competitividade, num contexto de grande instabilidade política e económica a nível global. A defesa do livre comércio deve ser um valor que não se pode perder.

Globalmente, também as tensões comerciais e a instabilidade nas cadeias de valor daí decorrente deverão manter-se e, eventualmente, agudizar-se. Seria importante, para suportar um maior crescimento económico, o desanuviamento de algumas tensões que podem transformar-se em conflitos, sem que as consequências possam ser antecipadas em todo o seu impacto.

As alterações climáticas continuarão a manifestar-se, exigindo dos governos e empresas a aceleração da transição energética, não apenas reduzindo a dependência dos combustíveis fósseis, mas investindo em soluções de energia verde e renovável.

O próximo ano deverá continuar a ser um ano de forte aposta na energia renovável e na eletrificação das economias, abrindo espaço para um aumento de “share” das energias renováveis no mix energético, em Portugal e na Europa.

CEO da Greenvolt

Diário de Notícias
www.dn.pt