Trump e a oportunidade da Europa

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Trump já regressou à Casa Branca e na Europa já se esboçam as reações de enfado e moralismo habituais. Não devia ser assim. Aliás, convinha que a abordagem do velho continente fosse diferente e há fortes razões para que tal aconteça desta vez.

Primeiro, porque Trump já não é novidade para ninguém e houve quatro anos de convivência anterior, dos quais não resultou nenhum fator de destabilização estrutural europeia com origem nos EUA. Depois, porque a estratégia que o presidente americano vai seguir em relação à Europa está mais do que anunciada: aumento de tarifas, distanciamento político e neutralidade militar.

Os europeus sabem, por isso, com o que contar no futuro próximo e têm as cartas todas na mesa para fazerem o seu próprio caminho e conquistarem a desejada autonomia estratégica face à América. Esse, de resto, foi o desejo expresso pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na intervenção em Davos, ao traçar três grandes objetivos para o reforço da competitividade económica no espaço comum: criação de um mercado único de capitais, com novos instrumentos de poupança e investimento; reforço das medidas de desburocratização administrativa e harmonização legal; obtenção da independência energética, com diversificação de fontes e adoção de tecnologias emergentes.

Tal como Mario Draghi alertou, a Europa atravessa uma crise existencial, que só a adoção de reformas e uma nova cultura de inovação e desenvolvimento pode superar. A presença de Trump na Sala Oval é, sem dúvida, um desafio adicional, mas é também uma grande oportunidade de afirmação, face à previsibilidade das suas opções, quer em matéria de política externa, quer na doutrina económica. Um bom exemplo deste novo posicionamento europeu está nos acordos comerciais com o Mercosul e o México, respondendo, com diplomacia e mercado livre, à agenda isolacionista e protecionista.

Sem descurar a relação com os EUA – que vale 30% do comércio global – a Europa tem de aproveitar este período para olhar para si própria e explorar as oportunidades que o quadro geopolítico lhe oferece. Só assim vai poder mostrar aos seus adversários que, além de um grande passado histórico para mostrar, tem um futuro promissor para oferecer às suas populações.

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