What makes America great

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Muito se tem escrito sobre os fatores que fizeram dos Estados Unidos da América a potência mundial que hoje conhecemos. Desde a dimensão do território à industrialização precoce,passando por vitórias em guerras decisivas, são múltiplas as razões apontadas. Mas há um aspeto frequentemente subestimado que, a meu ver, explica de forma profunda essa trajetória: a capacidade para lidar com a diversidade, tanto interna como externa.

Internamente, os EUA foram moldados por sucessivas vagas de imigração. Do campesinato irlandês aos cientistas judeus que fugiram do nazismo, do trabalho dos hispânicos às contribuições da comunidade asiática, todos encontraram espaço para, de algum modo, participar no chamado “sonho americano”. Claro que houve (e há!) conflitos raciais, exclusões e preconceitos que marcam a história do país. Mas é inegável que a diversidade se converteu numavantagem competitiva decorrente de mão-de-obra abundante e diferenciada, inovação cultural, atração de talento. Ora, um dos grandes méritos da América foi ter sabido transformar essa diversidade em motor de crescimento.

Externamente, a lógica não foi muito diferente. Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA compreenderam que o seu poder não poderia assentar apenas em armas e riqueza. Era preciso criar redes de alianças e instituições multilaterais que reforçassem a sua liderança. Efetivamente, da ONU à NATO, do FMI ao Banco Mundial, ergueu-se toda uma ordem geopolítica, em larga escala arquitetada a partir de Washington, onde, obviamente, a América ocupou uma posiçãocentral. 

As consequências da interação entre esses dois planos são evidentes: um país forjado pela convivência de múltiplas identidades que soube transmitir ao mundo a ideia de liderança compartilhada. Essa foi a força da diversidade americana: dentro, garantiu dinamismo social,apesar de todas as desigualdades que originou e que ainda subsistem; fora, moldou o mundo de modo a assegurar o equilíbrio, sem prejuízo de ter reservado para si uma posição hegemónica.

Convém lembrar, contudo, que a tradição isolacionista sempre esteve presente na história americana. Desde James Monroe (um dos founding fathers que governou o país entre 1817 e 1825), os EUA cultivaram a ideia da necessidade de se protegerem de influências externas e evitarem compromissos que limitassem a sua autonomia. Esse isolacionismo marcou boa parte do século XIX e voltou a surgir após a Primeira Guerra Mundial, quando o país se recusou a integrar a Sociedade das Nações – postura que durou até ao fatídico ataque japonês a Pearl Harbor. O que o século XX demonstrou, porém, é que a verdadeira grandeza americana só se consolidou quando abandonou essa atitude defensiva e assumiu plenamente o multilateralismo.

É justamente neste ponto que reside a contradição do movimento MAGA – Make America Great Again. Ao defender uma aversão cega em relação aos imigrantes e uma desconfiança preconceituosa em relação às instituições internacionais, nega as bases históricas que fizeram dos EUA a maior potência global. A América tornou-se grande porque foi aberta, plural e conectada com o mundo (muitas vezes moldado à sua maneira), não porque ergueu muros e se isolou.

Em suma, aquilo que realmente “makes America great” é exatamente o oposto do que é hoje defendido pela administração norte-americana. A grandeza nasceu da diversidade interna e externa, não do encerramento de fronteiras nem do isolacionismo. Renegar isso é renegar a própria essência do país.

Presidente da Ordem dos Economistas - Norte

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