Os países desenvolvidos enfrentam uma situação relativamente séria no que concerne a défices demográficos, o que coloca em causa a sustentabilidade do sistema social e também da competitividade das economias desenvolvidas. Por um lado, as gerações do pós-guerra são reformadas e as taxas de natalidade estão a cair significativamente por todo o mundo - e na Europa e Portugal não constituem exceção. Na melhor das hipóteses, as populações estão a crescer lentamente; em alguns países, no entanto, as populações estão a diminuir a um ritmo muito acelerado. Ao mesmo tempo as pessoas vivem mais, sendo que, desde 1960 e nos atuais Estados-membros da União Europeia, a esperança média de vida aumentou em cerca de 12 anos, atingindo neste momento os 81,1 anos. Consequentemente, o papel da imigração é cada vez mais relevante nos equilíbrios deste inverno demográfico. Os fluxos de recém-chegados aumentaram em muitos países desde que as restrições da era pandémica foram levantadas. Várias nações experimentaram aumentos recordes na população no ano passado, e os totais deste ano também deverão ser substanciais. No nosso país, os nascimentos de crianças com mães residentes - mas de nacionalidade estrangeira - representam atualmente cerca de 22% do total de novas vidas a cada ano. Ou seja, os emigrantes são hoje um tema de incontornável interesse estratégico, atraíram muita atenção e levantaram uma série de questões económicas. Mas também relevantes dúvidas geopolíticas.Numa primeira reflexão, é importante referir que a imigração é estruturalmente importante para a Economia, no curto e no médio prazos. O inverno demográfico europeu leva a uma redução da força de trabalho, que mesmo com os avanços da automação pode limitar a produtividade, condicionar o crescimento e aumentar inflação. Garantir projeções de crescimento sustentáveis requer incluir políticas que assentem numa abertura à imigração. Sobretudo se os recém-chegados forem inovadores, cujas invenções e empreendedorismo podem adicionar energia a uma economia. Contudo, e numa segunda inferência, é preciso ter capacidade para evitar ruturas no sistema social para evitar cenários de disrupção da capacidade instalada. A enorme escala de recém-chegados nos últimos anos desafiou a capacidade dos países de assimilá-los. A escassez de soluções de habitação e limitações nos serviços sociais aumentou as tensões, e tem vindo a fragilizar a coesão social nos países desenvolvidos. Adicionalmente, em várias situações, incluindo os Estados Unidos, continuam a prevalecer muitas situações de ilegalidade dos imigrantes, o que tem vindo a criar também situações de precariedade, dificultando a integração destas pessoas nas comunidades. Ou seja, existe uma perceção de ausência de estratégia política de imigração, e que na sociedade acabam por constituir uma fonte de crescente polarização.Por fim, parece que será improvável que os países desenvolvidos - sobretudo nos EUA, mas ainda mais na União Europeia - mantenham a atual ausência de regulação relativamente ao tema da emigração. Desde logo porque se é cada vez mais importante suprir as falhas que o envelhecimento das populações acrescentou nos últimos anos ao sistema económico e social, também é importante que existam maiores critérios de entrada. Seja pelas qualificações, ou pela proximidade cultural aos países de destino, mas também pelas limitações que os países anfitriões têm para receber e integrar todos os que querem emigrar. Um facto parece certo: é pouco provável que a imigração diminua. As situações de conflitos, alterações climáticas e grandes transições tecnológicas continuarão a alimentar estes fenómenos. Aos países desenvolvidos - e também Portugal - que pretendem inverter o inverno demográfico e manterem dinâmicas económicas sustentáveis, cabe gerir de forma eficiente e estruturada todos os delicados equilíbrios relacionados com a imigração, e ao mesmo tempo manter um país culturalmente coeso e socialmente estável. Economista, presidente do International Affairs Network