O World Economic Forum (WEF), com a colaboração do grupo Marsh & McLennan, do Zurich Insurance Group e do SK Group, lançou, há poucos dias, mais um "Regional Risks for Doing Business 2020". Neste estudo, pediu-se uma vez mais a um painel de mais de 12 mil empresários de 127 países que, entre 30 riscos globais (riscos que possam ter um impacto global ou em várias regiões do globo), identificassem os cinco principais que poderiam vir a interferir no negócio local..Na verdade, não quero escalpelizar os resultados do estudo (que podem ser consultados no mapa interativo do WEF), até porque quase sem surpresa e 10 meses após o início da crise de COVID-19 - com muito ainda por acontecer - o risco de "propagação de doenças infecciosas" disparou 28 posições no ranking e tornou-se uma das principais preocupações para as empresas..Quero, acima de tudo, dar relevo à importância da informação no processo de gestão de riscos, seja numa instituição privada, pública ou até mesmo governamental. O WEF produz dezenas de estudos, desenvolvidos por organizações com experiência e conhecimento, com detalhes que não podem, ou pelo menos não deveriam ser descurados..Hoje, temos acesso a muita informação histórica e existem métodos preditivos muito fiáveis que podemos utilizar e que nos permitem criar cenários e antecipar situações de maior risco para o sucesso das estratégias em curso. Com todo este conhecimento que temos hoje à nossa disposição, não podemos fazer como a avestruz e alegar que desconhecemos que a probabilidade de surgirem novas epidemias de escala regional ou global é cada vez maior e que parte dessa responsabilidade é nossa. E é nossa nomeadamente pelo impacto que a humanidade tem no clima mundial e na perda de biodiversidade..Sabendo que os sintomas de uma gripe ou constipação se podem confundir com os do COVID-19, é previsível que, se o acesso à vacinação sazonal da gripe não for superior aos anos anteriores, haverá disrupções nas empresas que têm muitos colaboradores no ativo e no mesmo local físico de trabalho, podendo gerar-se o pânico ou a incerteza sempre que alguém apresente sintomas que gerem dúvidas. Já para não falar no aumento de chamadas para o SNS24, para os seguradores ou até mesmo o aumento de consultas nos centros de saúde..Noutro quadrante, não é correto dizer que não sabemos como poderá ser o próximo ano em termos meteorológicos - não o digo com a certeza do dia, da hora ou do impacto -, já que hoje, a título de exemplo, é possível perceber se no prazo de meses é esperada maior ou menor número de tempestades, furacões ou tufões no Atlântico, Índico ou Pacífico..É, também, lógico e aceitável que muitos empresários considerem que o desemprego possa aumentar nos próximos meses, já que são eles quem, afinal, terão de tomar decisões que certamente não gostarão, mas que, eventualmente, farão parte do lote de medidas que, do lado dos custos, lhes permitirão contrabalançar a abrupta e prolongada redução de receitas..Podemos, por isso, esperar que, não só pelo aumento do desemprego, surjam potenciais cortes nos benefícios médicos e de seguros, que venham a aumentar inevitavelmente os custos com a saúde pública no futuro. Podemos ainda prever uma redução de indicadores económicos importantes, como a produtividade, o rendimento disponível, os níveis de poupança, o endividamento ou até a confiança dos consumidores..Não deve ser, também, surpresa para ninguém que, como diz o povo, a necessidade aguça o engenho ou a ocasião faz o ladrão. Desde que foi decretada a pandemia, e apercebendo-se das fragilidades que se criaram pelas medidas que tiveram de ser tomadas de forma repentina, os "atacantes" atuaram e fizeram disparar o número de ataques cibernéticos ao nível das pequenas, médias e grandes empresas, ao nível das utilities, dos hospitais e até dos Estados. A pandemia tornou óbvia a fragilidade das infraestruturas digitais e, mais do que reafirmar os perigos das ameaças, tornou-as realidade..Os números que vamos conhecendo, e que são atualizados recorrentemente, permitem perceber - e até - antever riscos sociais como a migração involuntária, o aumento da desigualdade, a diferenciação ao acesso tecnológico na educação, entre outros. Estes riscos vão criar um grupo cada vez maior de cidadãos economicamente desfavorecidos e frequentemente privados de direitos, cada vez mais desiludidos com os seus governos, dando força à probabilidade de mais agitação e dissidência social, extremismo violento, insurgência e turbulência política..Este ano mostrou que um inimigo invisível - a covid-19 -, num mundo que deveria ler melhor os números e os estudos que são publicados e atualizados, conseguiu expor a fragilidade global e o seu nível de resposta a um risco que estava previsto..É certo que num ambiente adverso e complexo podemos observar efeitos em dominó e de riscos em combinação. Os seus efeitos negativos são tanto maiores quanto mais olhamos para esses riscos de forma isolada. Fica a boa notícia de que há muito por fazer e que a função de Gestor de Riscos deve passar a constar cada vez mais nos processos de recrutamento das organizações e na criação de formação própria qualificada ao nível do ensino superior.