A abertura do hotel de cinco estrelas no antigo Quartel do Carmo, na Horta, Açores, "não é exequível em final de 2021", como estava previsto, "nem desejável", diz Paulo Torrão, administrador do grupo Lux Hotels. Este edifício é um dos 17 imóveis já concessionados no âmbito do Revive, programa lançado pelo governo que visa a recuperação de património público por investidores privados para fins turísticos. A pandemia obrigou o grupo Lux a pedir "de imediato a suspensão do prazo de execução até final do ano", altura em que procederá a nova avaliação da situação. Até agora, o Revive garantiu apenas a abertura de dois hotéis, mas o Vila Galé Collection Elvas, que resulta da requalificação do antigo Convento de S. Paulo, foi obrigado a fechar portas no início de outubro devido à pandemia. O impacto do surto da covid-19 não fica por aqui..O Ministério da Economia, que tutela o setor do turismo, confirmou ao Dinheiro Vivo que foi "solicitada a prorrogação de prazos contratuais por alguns concessionários" do Revive devido ao impacto da primeira vaga da pandemia, embora sem quantificar o número de pedidos de adiamento. Segundo adiantou, esse prolongamento dos prazos de vigência e da execução das prestações contratuais é "equivalente (e concomitante) ao período cumulado de duração do estado de emergência e do estado de calamidade para todo o país declarados entre o dia 18 de março e o dia 1 de julho de 2020", e foi concedido "por se entender admissível e adequado, face ao impacto e surpresa da situação, e à natureza particularmente restritiva das medidas adotadas" naqueles três meses e meio. O ministério liderado por Siza Vieira prevê que o motor do turismo comece a acelerar "quando se harmonizarem as regras para viajar"..Para este ano, estava agendada a abertura do hotel no Convento de Santa Clara, em Vila do Conde, e, ao longo de 2021, de mais cinco projetos: o Pavilhão do Parque D. Carlos I, o Convento de Santo António dos Capuchos, o Mosteiro de Arouca, o Castelo de V.N. de Cerveira e o já referido Quartel do Carmo..Surpresas no património.O grupo MS Hotels tinha a previsão inicial de arrancar na primavera do próximo ano com a exploração hoteleira do Mosteiro de Arouca, mas não será possível cumprir com esse prazo. Segundo Pedro Mesquita Sousa, CEO do grupo, as obras ainda não se iniciaram, porque "ainda antes da pandemia houve um atraso no licenciamento do projeto de arquitetura" devido a condicionantes do edifício. Entretanto, o surto acabou por ter reflexos na execução dos projetos da especialidade, que atrasaram e ainda não estão concluídos. Sem avançar projeções para o início de obra, o gestor sublinha que o MS Collection Mosteiro de Arouca é um projeto "fundamental" para o grupo e irá representar um investimento superior aos 4,5 milhões de euros inicialmente previstos. Em 2021, não será, pois, possível inaugurar esta unidade hoteleira, situação que poderá reverter-se favorável para o grupo. Como frisa Pedro Mesquita Sousa, "não acredito de todo que o próximo ano seja o ano de real retoma" para o setor turístico nacional, mas "tenho a esperança de que no segundo semestre já consigamos cobrir os custos de operação, não mais do que isso"..Paulo Torrão reconhece que a situação pandémica "criou um grau de incerteza sobre o futuro muito grande" e, face aos factos conhecidos, "pensamos que antes de 2022 não será possível haver retoma" no setor. Depois, "não será difícil voltar a crescer, pois logo que existam condições de viajar, os turistas voltarão". E, por isso, logo que seja possível, o grupo Lux Hotels iniciará as obras no Quartel do Carmo, mas procurando "coincidir a abertura com a retoma da procura turística para níveis que assegurem uma operação próxima da estimativa que presidiu à decisão do investimento", sublinha o gestor. O investimento previsto para a reconversão do edifício em hotel de cinco estrelas é superior a oito milhões de euros..O grupo Visabeira, que ganhou a concessão dos Pavilhões do Parque D. Carlos I, nas Caldas da Rainha, também não irá abrir as portas do hotel de cinco estrelas, com 124 quartos, e um investimento estimado de 14,4 milhões de euros no primeiro trimestre do próximo ano, como previsto. As obras ainda não arrancaram pois aguardam "pareceres externos de diversos organismos" e que poderão provocar ajustes ao plano inicial, adianta Jorge Costa, administrador do grupo para as áreas do turismo, imobiliária e serviços. Como refere, "a intervenção nos edifícios dos Pavilhões do Parque, coordenada pela Direção-Geral do Património Cultural e outras entidades, impõe muito rigor e sucessivas paragens", apontando como exemplo a realização nas próximas semanas de sondagens geotécnicas, devido à eventual existência de lençóis freáticos a passar por baixo do edifício e que terão de ser salvaguardados. Neste contexto, o grupo Visabeira não avança com possíveis datas para início da exploração do hotel, mas adianta que a obra tem um prazo estimado de dois anos..Estes adiamentos derivados de questões técnicas têm também sido analisados pelo Ministério da Economia. O gabinete de Siza Vieira adiantou que outras prorrogações, que não as impactadas pela pandemia, "só são admitidas no âmbito de uma negociação mais informada, que tenha por base um pedido devidamente fundamentado pelos concessionários, factualmente circunstanciado e juridicamente enquadrado, o que tem sido exigido, estando em análise alguns pedidos que, entretanto, foram apresentados neste sentido"..Dois em operação.Finalizados estão apenas os dois projetos Revive concessionados ao grupo Vila Galé - o Vila Galé Collection Elvas, que resulta da requalificação do antigo Convento de S. Paulo, e o Collection Alter Real, após as obras de recuperação da Coudelaria de Alter, projetos que implicaram um investimento global de 17 milhões de euros. A unidade de Elvas fechou portas a 7 de outubro, mas admite reabrir em março, ou até antes, dependendo da procura. Como adiantou fonte oficial, "a Vila Galé analisa periodicamente a sua oferta hoteleira em função da procura pelo que poderão surgir alterações a este calendário". Em funcionamento, deverá manter-se o Alter Real, que foi inaugurado a 13 de março, quando o país se preparava para o confinamento..O Ministério da Economia afirma-se "muito satisfeito com o ritmo de execução do programa Revive e com os resultados alcançados", considerando o projeto "emblemático e estruturante". Como recorda, já foram colocados 22 imóveis a concurso, adjudicadas 18 concessões (17 das quais já com contratos assinados), e iniciada a exploração em duas das concessões atribuídas, "assegurando uma nova vida a estes imóveis públicos de grande valor histórico e arquitetónico, que estavam sem utilização e em processo de degradação, nalguns casos em risco de ruína". Face à complexidade de todo o processo e à necessária colaboração de várias entidades, "não podemos deixar de considerar a execução atual do programa um sucesso"..Portugueses em destaque.Das 17 concessões já atribuídas, consta apenas um empresário estrangeiro. A recuperação e requalificação do Mosteiro de S. Salvador de Travanca num hotel de quatro estrelas foi entregue a Jean Claude Frajmund, que se propõe investir 2,3 milhões de euros no projeto a concluir até 2023. Os outros concursos foram ganhos por grupos portugueses, a grande maioria já com experiência na gestão de hotéis. Segundo o Ministério da Economia, o programa "tem suscitado a atenção de investidores estrangeiros, registando-se contactos e manifestações de interesse em número significativo, mas que não têm tido concretização em termos de propostas vencedoras". E desvaloriza esta questão, afirmando que continuará a trabalhar para concessionar os restantes espaços "aos melhores empresários, sejam eles nacionais ou estrangeiros"..Há pouco mais de uma semana foram assinados mais dois contratos de concessão. O grupo Hoti vai assegurar a reabilitação e exploração turística do Palacete dos Condes Dias Garcia, em S. João da Madeira, projeto orçado em quatro milhões de euros e com data de abertura ao público prevista para meados de 2022. Já a empresa AM+PM irá assumir o edifício Forte Barra de Aveiro, num investimento de 5,6 milhões de euros. Até agora, os imóveis adjudicados no âmbito do programa Revive representam um investimento privado superior a 138 milhões de euros..O Revive tem, atualmente, a decorrer o concurso para a concessão do Mosteiro do Lorvão, em Penacova, e aberto os procedimentos para o do Mosteiro de Santo André de Rendufe, em Aveiro. Em breve, serão lançados os concursos dos Fortes de S. João da Cadaveira e de S. Pedro, em Cascais, da Casa do Outeiro, em Paredes de Coura, e do Santuário de Cabo Espichel, em Sesimbra..Já no ano passado, o Revive conheceu uma extensão, designada Revive Natura, que integra um conjunto de 96 imóveis, onde constam antigos postos fiscais, casas de guardas florestais, moinhos, entre outros, que visa também a valorização deste património para atividades turísticas. Em setembro deste ano, foi integrado no Revive Natura um conjunto de 30 imóveis do património ferroviário, entre estações e habitações, que se encontram desativados.