O secretário-geral do PCP criticou nesta segunda-feira o governo por voltar a injetar dinheiro no Novo Banco após o bloqueio do parlamento, considerando que isso prova que existem setores "intocáveis que conseguem sempre aquilo que querem".
À margem de uma reunião com a Associação Cultural Moinho da Juventude, na Amadora (distrito de Lisboa), o líder comunista foi questionado sobre a notícia avançada pelo Dinheiro Vivo/JN/DN de que o Governo injetou 317 milhões de euros no Novo Banco, mesmo depois de a Assembleia da República ter bloqueado a pretensão do executivo de reservar uma dotação de despesa no Orçamento para poder injetar mais dinheiro na instituição.
"Infelizmente é uma demonstração de que o capital financeiro continua a determinar e que os governos têm servido de consola e de apoio aos seus objetivos, particularmente objetivos que todos nós condenamos, criticamos e denunciamos", afirmou Jerónimo de Sousa, salientando que "é de facto uma prova provada que há aqui uns intocáveis que conseguem sempre aquilo que querem".
O secretário-geral do PCP lamentou que "quando se trata de regatear nos salários, nas pensões, nas reformas, no Serviço Nacional de Saúde nunca há dinheiro para nada" e apontou que se trata de um "problema da cumplicidade ou da passividade".
Salientando que "o governo tinha a consciência de que aquelas normas foram lá colocadas precisamente para servir de travão, de obstáculo", Jerónimo apontou que "existiam comandos no Orçamento de 2021" que o governo esteve "a contornar, a rodear e a conseguir uma facilidade" para o Novo Banco por "portas e travessas".
"Todos nós se calhar não percebemos bem os meandros muito tortuosos que existem para se conseguir isso, mas é um facto, facilidades, facilidades para o capital financeiro e sacrifícios, às vezes de uma forma escandalosa, para muitos e muitos portugueses", criticou, mostrando-se convicto de que "o povo português registará com certeza isso".
O Dinheiro Vivo, o Diário de Notícias e o Jornal de Notícias escrevem hoje que o ministro das Finanças, João Leão, "fintou" o parlamento - que com uma maioria (BE, PSD, PCP e PAN) bloqueou a pretensão do governo de reservar uma dotação de despesa no Orçamento para poder injetar mais dinheiro no Novo Banco - e acabou por injetar na instituição 317 milhões de euros.
Mesmo chumbado pelo parlamento, "em junho, o Novo Banco recebeu 317 milhões de euros e, na semana passada, o resto que estava em dúvida, mais 112 milhões de euros".
"No total os 429 milhões previamente acordados", acrescenta os jornais, esclarecendo que o dinheiro foi angariado com recurso a um sindicato bancário, depois foi vertido no Fundo de Resolução que injetou os milhões no Novo Banco.