PIB. Arranque do ano foi bastante fraco, mas 2º semestre já deve animar

INE. Portugal, mesmo com dificuldades, cresce mais do dobro em relação à Zona Euro no segundo trimestre e na primeira metade de 2024. Confiança das famílias portuguesas também deu um ar da sua graça em junho e julho. Consumo privado e investimento devem ter pernas para andar e compensar no que resta deste ano.
Fotografia: Leonardo Negrão / Global Imagens
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O crescimento da economia portuguesa no primeiro semestre deste ano foi, tirando os solavancos da pandemia (2020 e 2021), o mais fraco desde 2016, mas o segundo semestre deverá compensar, esperando-se maior dinamismo ao nível do consumo das famílias e do investimento.

De acordo com a primeira estimativa (rápida) do Instituto Nacional de Estatística (INE) para o andamento do Produto Interno Bruto (PIB) em termos reais do segundo trimestre deste ano, a economia portuguesa terá avançado 1,5% face a igual período do ano passado, o que coloca a expansão semestral num ritmo médio de 1,5% (o primeiro trimestre registou a mesma marca).

Como referido, sem observar os anos totalmente atípicos da pandemia (quando o PIB real caiu mais de 10% no primeiro semestre de 2020, recuperando depois 6,3% na primeira metade do ano seguinte), este primeiro semestre de 2024 é o mais fraco desde 2016, quando a economia cresceu 1,4%.

"O PIB, em termos reais [ou seja, descontando o efeito da inflação], registou uma variação homóloga de 1,5% no 2º trimestre de 2024, taxa idêntica à verificada no trimestre precedente", avançou ontem o INE, explicando que "o contributo positivo da procura interna para a variação homóloga do PIB aumentou no 2º trimestre, verificando-se uma aceleração do investimento e do consumo privado".

De acordo com a estimativa rápida do Eurostat, também para o segundo trimestre, Portugal, mesmo com dificuldades, está a crescer mais do dobro do ritmo do conjunto da Zona Euro. A região composta por 20 países expandiu-se apenas 0,6% em termos homólogos.

Segundo os analistas, o facto de a procura interna portuguesa estar a ganhar algum gás pode ser visto como um primeiro sinal de que a economia está, de facto, a conseguir resistir ao ambiente de estagnação e incerteza internacional, sobretudo a europeia, região onde estão os maiores parceiros económicos.

Já o contributo da procura externa líquida [exportações menos importações] para a variação homóloga do PIB "foi negativo, após ter sido positivo nos dois trimestres anteriores, tendo as importações de bens e serviços acelerado de forma mais acentuada que as exportações", acrescenta o instituto.

Vânia Duarte, economista do gabinete de estudos do grupo BPI, considera que os dados publicados pelo INE "confirmam a perspetiva de que o ano será marcado por uma trajetória de menos para mais", em recuperação, portanto, com o segundo semestre de 2024 a compensar o desaire do primeiro.

A analista nota que o primeiro semestre foi "marcado pelo impacto acumulado da subida dos juros, da inflação e pelo abrandamento das economias europeias", efeito que pode começar a dissipar-se um pouco. As taxas de juro estão a descer, ainda que devagar, a inflação também. Ambos os efeitos ajudam a repor algum poder de compra, sobretudo entre as mais endividadas e com menores rendimentos.

Do lado do comércio exterior, o facto de as importações (agregado que come valor ao PIB) terem disparado de forma "acentuada" estará "muito provavelmente associado à aceleração do investimento", pois o País precisa de comprar muita tecnologia e muitos equipamentos ao exterior já que não os produz internamente.

Posto isto, "aguarda-se uma segunda metade do ano mais positiva" e "para o conjunto do ano, antecipamos um crescimento real do PIB de 1,8%", diz a mesma economista.

Encostados ao PRR

De acordo com o departamento de estudos do BPI, "o consumo privado continua forte, apesar do abrandamento da componente dos bens duradouros, refletindo a robustez do mercado de trabalho e os sinais de melhoria do rendimento disponível".

"Como antecipávamos, o investimento recuperou, depois de um mau desempenho no primeiro trimestre, sendo previsível que mantenha um comportamento positivo no resto do ano, na expectativa de que a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) possa acelerar um pouco e os custos de financiamento comecem a reduzir-se gradualmente", diz o gabinete.

Tudo considerado, "os riscos para a atual previsão revelam-se equilibrados, sendo que os negativos estão essencialmente associados a fatores externos de carácter geopolítico", como as guerras e as ameaças ao comércio global.

Ainda segundo Vânia Duarte, "internamente, os riscos parecem mais enviesados em sentido positivo, predominantemente relacionados com a possibilidade de que a procura interna se revele mais forte do que o antecipado".

Ontem, também, o INE revelou que "o indicador de confiança dos consumidores aumentou em junho e julho, superando pela primeira vez o valor registado em fevereiro de 2022, antes da queda abrupta verificada em março de 2022", no que pode ser lido como um fator que ajudará a animar o que resta do corrente ano.

Em todo o caso, fica o aviso, também do INE: "o indicador de clima económico diminuiu em junho e julho, contrariando o aumento observado no mês anterior", "os indicadores de confiança diminuíram na Indústria Transformadora e na Construção e Obras Públicas", embora tenham "aumentado nos Serviços e, de forma moderada, no Comércio".

Os resultados detalhados das Contas Nacionais Trimestrais do 2º trimestre de 2024 serão divulgados pelo INE a 30 de agosto de 2024.

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