A tendência de Buy Now, Pay Later (BNPL) - comprar agora, pagar depois - pode parecer ultramoderna devido à sua ubiquidade junto dos retalhistas preferidos pela Geração Z, mas na verdade o conceito é tão antigo quanto o próprio crédito. O destaque atual do BNPL deve-se, na realidade, à sua integração perfeita na jornada de compras online. Quer comprar um novo casaco na ASOS mas não tem fundos? Já não precisa de pedir a amigos e a familiares ou colocar tudo no cartão de crédito - basta clicar em 'Pagar com Klarna' para encomendar o produto no momento e dividir o custo em prestações menores e mais acessíveis..Os bancos tradicionais e os fornecedores de pagamentos podem sentir que perderam o boom inicial do BNPL - mas o crédito a prestações também é um investimento arriscado, particularmente quando os clientes excedem os limites (de prazo ou plafond). Os credores como a Klarna e a Laybuy operam num modelo diferente do dos cartões de crédito; e embora o BNPL possa ser popular perante uma crise de custo de vida em que os rendimentos diminuem, é também particularmente vulnerável a isso mesmo. Com mais consumidores a passar por dificuldades financeiras, a incapacidade de cumprir os prazos de pagamento ameaça agora a longevidade da indústria. Então, como é que o Buy Now, Pay Later poderá sobreviver a uma recessão iminente?.1. Os credores vão começar a recusar empréstimos.O BNPL é diferente dos cartões de crédito, que são uma linha de crédito aberta. Isto permite aos clientes fazer levantamentos regulares até um limite acordado e a pagar juros apenas sobre o que pedem emprestado. Durante a crise financeira de 2008, os bancos desativaram os cartões de crédito inativos dos clientes para se resguardarem contra perdas recorde de empréstimos..No entanto, as empresas BNPL cobrem compras únicas e não conseguem reduzir as linhas de crédito. Para evitar perdas, é possível que os credores tenham de restringir a elegibilidade ou mesmo limitar a dimensão dos empréstimos..2. A falta de visibilidade vai exigir mais informação.Atualmente, não existe uma forma uniformizada para reportar os empréstimos BNPL. Quando um cliente utiliza um serviço BNPL, o credor não sabe quantas dívidas diferentes ele já tem, se paga a tempo ou já está sobrecarregado com várias prestações em atraso..Há cerca de 10 anos, ocorreu um fenómeno semelhante com os credores online sem garantias durante o boom do peer-to-peer (empréstimos realizados diretamente entre indivíduos, sem recurso a uma instituição financeira a intermediar). Devido ao fraco reporting, os credores não conseguiram detetar a acumulação de múltiplos empréstimos dos consumidores com diferentes empresas, levando a um aumento das obrigações e dos riscos de incumprimento, bem como da incapacidade de reembolso. De novo, esta situação difere da dos cartões de crédito, que são destacados nos relatórios de crédito dos clientes para que as entidades possam tomar decisões de empréstimo informadas..A integração do open banking pode ajudar a melhorar os relatórios de BNPL - no entanto, os consumidores têm de aceitar partilhar os seus dados. Embora seja provável que os mais responsáveis o façam, quem tem dificuldades em pagar pode recusar esse consentimento para proteger as suas perspetivas futuras de contração de empréstimos..3. As empresas BNPL devem adaptar-se para permanecerem relevantes.Como diz Jack Dorsey, fundador do Twitter, "não há melhor altura para iniciar uma nova empresa ou ideia do que durante uma depressão ou recessão". Assim, os credores devem continuar a investir para assegurarem crescimento contínuo e encontrarem novas formas de lucrar..A recessão iminente traz oportunidades de mercado significativas para os bancos e prestadores de serviços financeiros. O futuro da indústria poderá estar nas novas ofertas que utilizam todos os dados de contas e transações para ajudar os consumidores e as pequenas empresas a planear, poupar e investir. Em suma, trata-se de gerir os fluxos de caixa - os credores BNPL devem certificar-se de que continuam a inovar, renovando os seus modelos de negócio para ajudar os consumidores a navegar situações de crise. Só então poderão cimentar-se como key players nos serviços financeiros, agora e no futuro.. David Ritter, Director of Financial Services Strategy, da CI&T