A indústria portuguesa ultrapassou Espanha e assume-se como o segundo maior produtor de calçado na Europa, avança a associação do setor, em comunicado. A APICCAPS sustenta-se na atualização de dados do Eurostat, que mostram que, em 2022, saíram das fábricas portuguesas quase 85 milhões de pares de sapatos, dois milhões a mais do que das espanholas..“Este é o resultado do investimento continuado do setor de calçado em Portugal, na definição de uma visão ambiciosa e em políticas públicas ajustadas, que permitiram ao setor reposicionar-se na cena competitiva internacional”, refere, citado no comunicado, o presidente da APICCAPS. Luís Onofre lembra que a fileira tem em curso, só no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, dois projetos de investimento de 140 milhões de euros, e sustenta que “independentemente dos ciclos conjunturais complexos, continuamos a acreditar no futuro da nossa indústria”..Já Paulo Gonçalves, porta-voz da associação, explica que a APICCAPS tem procurado estudar como se tem comportado o setor face aos seus principais concorrentes, de modo a dar contexto à performance das empresas nacionais. Até porque, lembra, “podíamos estar a crescer 20% e a perder quota de mercado”. Não foi o caso..Segundo os números da associação, com base no Eurostat, a produção em Portugal cresceu 14,4% na última década, passando de 74 para 85 milhões de pares. O que compara com um recuo de igual dimensão por parte da indústria espanhola, cujo fabrico recuou de 97 para 83 milhões de pares..Itália mantém-se como o maior produtor europeu, embora esteja a perder terreno. Entre 2012 e 2022, a produção italiana encolheu 18,6% e ficou-se pelos 162 milhões de pares, distantes dos 199 milhões que fabricava uma década antes. No total, a produção de calçado made in Europe caiu 19,6%, passando de 617 milhões de pares em 2012 para 496 milhões em 2022..“Infelizmente, diria, a produção na Europa tem vindo a cair significativamente e hoje significa menos de 3% da produção mundial de calçado. Os nossos dois grandes concorrentes, Itália e Espanha, têm vindo a perder protagonismo ano após ano, e o seu modelo de negócio assenta hoje muito mais numa estratégia de importação e exportação, e a produção própria tem vindo a cair”, refere Paulo Gonçalves, sublinhando que os dados de 2022 são os mais recentes disponíveis, embora acredite que a realidade de 2023 “não será muito diferente”..Significa isto, segundo a APICCAPS, que a quota de Portugal na produção europeia se reforçou em quase cinco pontos percentuais, passando de 12,7% em 2012 para 17,1% dez anos depois. No mesmo período, Itália perdeu um quarto das suas empresas na fileira do calçado, Espanha perdeu 16% e Portugal 5%. Os italianos têm 6381 empresas registadas, Espanha tem 2808 e Portugal 2428, indica anda a associação, referindo que os três países em conjunto “são responsáveis por praticamente 70% da produção europeia de calçado”..A comparação com Itália fica prejudicada pelo fator preço. É que se é verdade que Portugal tem, de entre os principais produtores de calçado na Europa, o segundo maior preço médio de exportação - 27,99 dólares por par exportado em 2022 -, não é menos verdade que Itália continua a reforçar o seu preço médio a um ritmo muito superior ao português. Em 2022, o preço médio do calçado italiano foi de 61,55 dólares.."Não ignoramos essa evolução, é caso de estudo", diz Paulo Gonçalves, explicando que a associação encomendou um estudo a uma consultora internacional para avaliar o que está a acontecer nos mercados em especial no segmento de luxo.."Não é segredo que queremos uma ser uma grande alternativa de mercado no calçado de luxo e estamos a posicionar-nos nesse sentido. Os investimentos que temos vindo a fazer, quer no FAIST quer no BioSHoes4All, vão permitir que nos reposicionemos na cena competitiva internacional, com novos materiais e uma nova geração de peles, mas também com investimento em tecnologia de ponta. O objetivo é que, quando o mercado recuperar, Portugal possa estar numa boa spoição para aproveitar as oportunidades de negócio que seguramente surgirão", sustenta este responsável.