Em 1989, quando fundavam aquela que viria a ser uma das maiores agências de modelos do país e bradavam aos céus pela invenção do já obsoleto fax, jamais imaginavam que o negócio das suas vidas passaria um dia por um então inexistente mundo digital. Emília e António Romano, por todos no meio conhecidos por "Mi" e "Tó", são os pais da Central Models, a agência portuguesa que nasceu para impulsionar as vendas das marcas, através de personagens capazes de fortalecer a alma do produto..Mais de 30 anos se passaram e muito mudou: os direitos de imagem começaram a ser pagos, os padrões de beleza tornaram-se mais inclusivos, os outdoors deram lugar a suportes disruptivos e aqueles habilitados a influenciar as massas não se cingem hoje aos comentadores de televisão. "Há cerca de oito anos, começámos a observar no mercado internacional uma nova tendência, que resultava em negócio efetivo para as marcas", conta ao Dinheiro Vivo o fundador da agência. O digital era a casa deste fenómeno, que ganhava forma pela aptidão de determinadas personalidades influenciarem pessoas por meio do seu discurso..Ainda que o mercado tenha conseguido surpreender volvidas décadas, Emília e António Romano nunca estiveram dispostos a deixar de apanhar o comboio da mudança. Assim, há quase quatro anos, lançaram o departamento de marketing de influência, que se veio juntar ao de moda, com cerca de 80 modelos, e ao comercial, que representa 220 pessoas, com o intuito de oferecer "um circuito completo aos clientes em Portugal". Os números têm justificado a aposta no segmento, cujas receitas já se aproximam dos 50% da faturação global da empresa - significa isto que, dos dois milhões de euros alcançados em 2022, perto de um milhão dali proveio..Manuel Luís Goucha, Paulo Pires, Pepe Rapazote e Margarida Corceiro são alguns dos nomes que compõem a lista dos 32 que, à data, se fazem representar no digital pela Central Models. Já Beatriz Cardoso Alves é a figura que diariamente dá tração àquele departamento que, totalizando uma equipa de sete pessoas, trata de gerir carreiras e alinhar toda a estratégia de comunicação e marketing para cada um dos perfis. A "responsabilidade é enorme", refere a coordenadora: "Temos agenciados que alcançam mais de dois e três milhões de pessoas semanalmente. Do nosso lado existe o compromisso de promover sinergias entre marcas e influenciadores, acompanhá-los e posicioná-los na imprensa, bem como garantir que têm todas as ferramentas para influenciar da forma mais positiva possível.".Além do know-how de que podem usufruir, a gestão do tempo é também uma das principais motivações para personalidades - especialmente as que "combinam a presença no digital com outra profissão" - procurarem o mais recente serviço da agência. Segundo a responsável, estudos provaram que 80% das pessoas confiam tanto num influenciador como em família ou amigos - talvez por isso já mais de quatro mil marcas (25% internacionais) tenham recorrido à Central Models para trabalhos deste tipo, catapultando-a para o top 4 do país..O volume de negócios deste departamento é "totalmente diferente", destaca Beatriz Cardoso Alves. A explicação reside no impacto gerado por um influenciador e por um modelo nas campanhas - excetuando, claro, casos de sucesso internacional como a top model Sara Sampaio, que todos os anos encabeça a faturação do segmento de moda. Apesar de não haver, até ao presente momento, ferramentas capazes de mensurar a taxa de conversão direta - uma lacuna que faz com que as marcas portuguesas não invistam tanto em marketing de influência como as lá de fora -, é sabido que "há influenciadores a ter mais audiência do que um canal televisivo ou uma rede de mupis nacional". É este alcance que faz com que, havendo consistência, esta carreira "renda bastante"..Atualmente, atores ganham tanto no digital como nos seus contratos televisivos, diz António Romano. Os valores, embora oscilantes conforme os nomes, facilmente chegam aos 20 mil euros líquidos por mês, sendo esta uma média e existindo casos que ganham abaixo e acima desse patamar. Por apenas uma publicação no Instagram (a plataforma predominante nesta atividade) há quem já tenha arrecadado uns robustos 30 mil euros. Ainda assim, lembra a coordenadora, "é um valor super abaixo daquilo que é praticado noutras plataformas"..Uma vez mais, o mercado não pára de surpreender e a Central Models tem de se adaptar, nomeadamente ao surgimento de uma nova rede social (TikTok) e ao Metaverso, onde até já foi realizado o lançamento de um novo produto de uma marca de cervejas. A concorrência no meio "é muito saudável", atesta a responsável, revelando que parte do trabalho do seu departamento passa também por incluir nas propostas representados de outras agências..Com o setor da publicidade a recuperar da pandemia e o mundo digital a todo o gás, a agência tem planos para, nos próximos tempos, aumentar a equipa, expandir a presença internacional e fazer crescer a faturação em meio milhão de euros por ano.