Se quando acabar o confinamento quiser retomar a atividade física no seu anterior ginásio, poderá não ser surpresa se o mesmo não mais abrir. Nos últimos meses, e de acordo com a informação de que a AGAP dispõe, já encerraram cerca de 300 Clubes, quase um terço dos espaços dedicados ao fitness no nosso país, com o desemprego a aumentar de uma forma muito preocupante. Passou-se de 17 mil empregos diretos no final de 2019 para cerca de 12 mil, ou seja, uma perda de 5 mil postos de trabalho.
O novo confinamento geral, que iniciou a 15 de janeiro, foi mais um murro no estômago para muitos setores que já estavam muito fragilizados. Muitos Clubes de Fitness e Saúde que estavam a lutar para sobreviver, voltam a fechar portas sem saber quando as poderão abrir. Este é um setor que perdeu 50% da sua faturação em comparação com o período homólogo e que precisa urgentemente de medidas que contribuam para assegurar a manutenção dos negócios e dos milhares de postos de trabalho das suas empresas. Como? Por exemplo, através de apoios a fundo perdido, da criação de uma linha de apoio à tesouraria para microempresas, do reforço financeiro à tesouraria das empresas através de crédito, da definição de períodos de carência de pagamentos ao Estado ou, entre outras, da revisão dos compromissos bancários.
Estas são apenas algumas medidas que poderiam ser adotadas no imediato, mas que se juntam a outras que a AGAP tem vindo a defender nos últimos anos e que poderiam fazer toda a diferença. Há anos que temos vindo a defender benefícios fiscais para os utilizadores dos Clubes de Fitness e Saúde em sede de IRS - ainda com resultados muito insuficientes -, assim como em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas para as empresas que comparticipassem os custos da prática de Exercício Físico aos seus colaboradores ou que tenham ginásios nas próprias empresas. Adicionalmente, os serviços prestados na área do exercício nos Clubes de Fitness e Saúde têm atualmente, e incompreensivelmente, a taxa máxima de IVA de 23%, quando nos bens e serviços ligados à saúde a taxa é de 0% em sede de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).
À semelhança das Escolas, os Clubes são locais seguros no que toca à propagação do vírus. O setor do Fitness já deu provas de ser um setor responsável e exemplar na implementação e cumprimento escrupuloso de todas as medidas em termos de gestão de espaço, de higiene, de segurança e de proteção das pessoas, não havendo conhecimento de focos de infeção nestes espaços.
Não podemos esquecer que, numa situação de pandemia, o facto de se praticar exercício é, só por si, uma grande vantagem. Como comprovam inúmeros estudos, e é aconselhado pela Organização Mundial de Saúde, o nível de atividade física de uma população é fundamental para a subida dos seus índices de Saúde e contribui muito positivamente para o equilíbrio emocional e físico, combatendo o stress, a depressão ou a ansiedade.
Por outro lado, as pessoas que têm o hábito de praticar exercício físico apresentam uma saúde imunitária mais fortalecida do que aquelas que não o fazem, uma prática fundamental quando se sabe que a existência de doenças crónicas é um dos fatores que agrava o risco de hospitalização e morte por covid-19.
Como tal, todos aguardamos com expectativa a definição de medidas urgentes para apoiar o setor. Não tenhamos dúvidas de que, se nada for feito, Portugal vai continuar a marcar passo nesta área e a ocupar um lugar na cauda da Europa, vendo diminuir o número de empresas, de profissionais e de praticantes. Há décadas que o nosso país tem um dos índices de atividade física mais baixos da Europa. O sedentarismo é um dos fatores que mais contribui para uma morte prematura. Por isso, nos tempos que correm é importante relembrar que estar saudável não é só estar livre de covid-19.
Numa altura de novo confinamento geral, é com grande preocupação que assistimos à restrição desta atividade, que está praticamente parada, e à obrigação de os ginásios fecharem portas novamente. Compreendemos que estamos agora numa situação pandémica grave e que todos temos de colaborar na resolução deste problema. Mas a exemplo do que foi efetuado com outros setores, o Governo tem de olhar criticamente para nós, porque somos muito importantes tanto do ponto de vista da saúde, do equilíbrio sócio-emocional, mas também do económico.
José Carlos Reis, presidente da Direção da Portugal Activo|AGAP