Retoma europeia até 2026 vai ser muito mais débil que a da crise do euro e pandemia

BCE prevê que a Zona Euro cresça a um ritmo médio de apenas 1,1% entre 2024 e 2026, mesmo com o impulso de fundos europeus e PRR. Portugal deve crescer o dobro, mas é cada vez mais duvidoso que assim seja. Alemanha e França podem causar dissabores.
Retoma europeia até 2026 vai ser muito mais débil que a da crise do euro e pandemia
Foto: EPA/AFP
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A retoma da economia europeia entre este ano e 2026, se tal vier a confirmar-se, como espera o Banco Central Europeu (BCE), vai ser muito mais fraca do que as recuperações registadas após as duas últimas grandes crises, a da Zona Euro e a crise pandémica (covid-19).

De acordo com cálculos do DN a partir das novas previsões apresentadas na semana passada pela presidente do BCE, Christine Lagarde, a recuperação da mais recente crise (a inflacionista, que foi espoletada pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, no início de 2022) deverá acontecer a um ritmo de crescimento real médio anual de apenas 1,1%, considerando como referência, o triénio que vai de 2024 a 2026.

A recuperação entre 2015 e 2017, portanto, a que se seguiu à crise da Zona Euro (que durou entre 2010 e 2014), rendeu à economia europeia um crescimento médio anual no triénio de 2,2%, portanto o dobro do que está agora previsto até 2026.

Mais recentemente, haveria de ser um vírus afundar a economia europeia e todas as nacionais. A pandemia de covid-19, que começou no arranque de 2020, exigiu fortes confinamentos às atividades económicas, muitas pararam mesmo (como as viagens e turismo), tendo a Zona Euro colapsado mais de 6%.

A recuperação que se seguiu até 2023 rendeu um crescimento anual médio de 3,5%, embora este tenha sido muito empolado pela inflação muito elevada do ano de 2022. A subida dos preços no consumidor chegou a furar a barreira dos 10% em outubro desse ano, valores nunca vistos na História da moeda única, inflacionando a faturação de muitas empresas (retalho, combustíveis, alojamento turístico, etc.), a receita de impostos.

Mas a retoma agora prevista é, por todas as medidas, bastante fraca, sobretudo num momento em que a Europa de hoje precisa, mais do que nunca, de um relançamento económico mais pujante.

Para recuperar os atrasos infligidos pelas crises anteriores, claro, mas sobretudo para ultrapassar os fortes constrangimentos e riscos que se perfilam no horizonte, como a previsível quebra no comércio mundial, que tanto afetará economias altamente exportadoras, como a gigante Alemanha.

Apesar do impulso que ainda pode ser oferecido pelas grandes obras e grandes projetos tecnológico financiados pelos fundos europeus e, em particular, pelo Planos de Recuperação e Resiliência (PRR), o passo vagaroso previsto agora pelo BCE (crescimento de apenas 0,7% este ano, 1,1% no próximo e 1,4% em 2026) encerra situações bastante difíceis e graves, como é o caso da estagnação económica e turbulência política da Alemanha e da crise orçamental e política de França, as duas maiores da área do euro.

"A economia [da Zona Euro] deverá ganhar força com o tempo, ainda que mais lentamente do que antes esperado", disse a líder do BCE, na semana passada, quando anunciou uma nova descida na principal taxa de juro de referência, para 3%, de modo a não deixar a economia sangrar ainda mais, ao mesmo tempo que, referiu Lagarde, mantém a inflação controlada.

O atual nível de taxas de juro e as condições de financiamento, mesmo numa rota de alívio gradual, continuam a ser "restritivos", afirmou a chefe da autoridade monetária.

E, em cima disto, há fatores de monta que o BCE ainda não incluiu nas suas novas projeções.

O crescimento médio de 1,1% até 2026 é no pressuposto de que não haverá "uma intensificação das tensões comerciais, as exportações deverão apoiar a recuperação, com o aumento da procura mundial".

A maior ameaça, como se sabe, reside no programa mais hostil ao comércio externo propalado pelo Presidente-eleito dos EUA, Donald Trump, que toma possa em janeiro.

Para Lagarde, "o risco de mais atritos no comércio mundial [agravamento de tarifas aduaneiras] pode pesar sobre o crescimento da área do euro, reduzindo exportações e enfraquecendo a economia mundial. Uma menor confiança pode impedir a recuperação do consumo e do investimento".

Como escreveu o DN, neste panorama frágil e fraco de retoma, o BCE também não está a contar ainda com as consequências que podem advir do impasse político e orçamental francês.

"Os planos orçamentais em alguns dos grandes países da área do euro não estão finalizados ou estão desatualizados, dados os atuais riscos políticos. Por exemplo, em França, os pressupostos e projeções de base da política orçamental baseiam-se no orçamento para 2025 e nos planos orçamentais de médio prazo do governo do primeiro-ministro Barnier".

Este governo caiu e França ainda não tem um orçamento para o ano que vem, algo que inquieta cada vez mais analistas e agências de rating. É outro perigo à espreita que pode reclamar pontos ao crescimento europeu.

Portugal tem resistido. Embora também já esteja em desaceleração económica, ainda deve crescer acima da média europeia. A média prevista pelo Banco de Portugal para o período em causa (2024 a 2026) é 2%, o dobro da marca da Zona Euro.

No entanto, o País, uma pequena economia aberta, dependente de investimentos estrangeiros, de turismo, nunca ficará imune aos danos maiores que venham a ser infligidos aos seus grandes e históricos parceiros económicos, como é o caso de Alemanha e França, por exemplo.

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