Rows. Startup portuguesa que compete com Excel vira foco para os Estados Unidos

Empresa criou uma folha de cálculo com inteligência artificial que já tem 800 mil utilizadores. O crescimento acelerado no ano passado levou a equipa de 35 pessoas a redirecionar todos os esforços para o mercado norte-americano, que já pesa 35% na faturação
Humberto Ayres Pereira e Torben Schulz, cofundadores da Rows. FOTO: Direitos Reservados
Humberto Ayres Pereira e Torben Schulz, cofundadores da Rows. FOTO: Direitos ReservadosHumberto Ayres Pereira e Torben Schulz, cofundadores da Rows. FOTO: Direitos Reservados
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Há aplicações e suites de software que entusiasmam os utilizadores e criam legiões de fãs. Não é o caso das folhas de cálculo: há um número infindável de artigos sobre como toda a gente as odeia e a enumerar porque o fazem com razão. Mas quando a startup portuguesa Rows redesenhou a sua folha de cálculo e adicionou uma camada de inteligência artificial (IA), em junho de 2023, conquistou uma comunidade entusiasmada de utilizadores que não parou de crescer até agora. 

“Nós somos uma folha de cálculo. Assumimos que é uma ideia louca, porque a competição é o Google Sheets e o Microsoft Excel e nós queremos conquistar esse mercado”, disse ao Dinheiro Vivo o fundador e CEO da Rows, Humberto Ayres Pereira. 

As experiências feitas em 2023, desde a IA à eliminação da página de marketing do site, permitiram-lhes dar um salto gigante em termos de receitas e utilizadores. Cresceram cerca de 20 vezes sem gastar um euro em promoção. 

A faísca inicial foi provocada por um utilizador que decidiu fazer um vídeo sobre o produto, na altura totalmente gratuito, que se tornou viral. Teve 30 milhões de visualizações e 100 mil partilhas, um sucesso que motivou outros criadores a fazerem o mesmo e a gerarem muito tráfego orgânico para a plataforma. 

“Mais ou menos uma vez por semana ou semana sim, semana não aparece um artigo sobre nós com milhões de likes”, disse o executivo. A startup já apareceu num programa de televisão na Argentina e foi mencionada num telejornal da Coreia, entre outras aparições internacionais. “Foi uma reação em cadeia que ainda não parou. Tivemos muita sorte.”

Sorte talvez explique a natureza viral do tráfego, mas para começar 2023 com 38 mil utilizadores e acabar o ano com 800 mil foi preciso algo mais. 

“Temos uma inteligência artificial que permite fazer perguntas aos dados. Foi por isso que crescemos muito no ano passado”, descreveu Humberto Pereira. “O trabalho de quem usa folhas de cálculo é carregar os dados, depois trabalhá-los, fazer perguntas, sumários, cortes, filtros, pôr gráficos. Nós tornamos esse trabalho muito fácil com a IA que lançámos.”

O crescimento da startup, que tem 35 pessoas e existe desde 2017, levou a equipa a decidir redirecionar os esforços para o enorme mercado dos Estados Unidos. É nisso que Humberto Ayres Pereira e o seu sócio Torben Schulz estão focados neste momento. 

“Quando começámos a cobrar pelo produto, em outubro do ano passado, os Estados Unidos cresceram logo para número um”, explicou o CEO, referindo que o país já pesa 35% na faturação da startup. Era algo esperado, visto que se trata do mercado que mais consome software no mundo. Mas isto abriu as perspetivas de crescimento, porque a Rows acredita que pode conquistar muito mais empresas e utilizadores individuais na região norte-americana.

“As folhas de cálculo têm um mercado de mais de mil milhões de utilizadores. Para crescer com receita sustentável, o nosso objetivo é ir para onde estão os clientes mais representativos, que são os americanos”, explicou o CEO. 

Todas as partes da operação vão ser focadas nos Estados Unidos. Vão dar prioridade ao feedback oriundo deste mercado, o suporte será ajustado ao fuso horário, a equipa irá concentrar o investimento em conferências no país e Humberto Pereira decidiu silenciar os seguidores que não estão nos EUA, de forma a desenvolver mais ligação com os que está lá. 

“É mesmo uma mudança total de paradigma para a América”, salientou. Os dois sócios irão também revezar-se e passar alguns meses cada no mercado. 

“Nós somos um bocado malucos, é preciso assumir à cabeça”, gracejou Humberto Pereira. “Em 2023, ficámos o ano todo a experimentar montes de coisas até termos este crescimento brutal de utilizadores. Em 2024 vamos fazer a mesma coisa na parte da monetização, para chegar aos utilizadores que querem pagar.”

E porque o fariam, se os produtos da Microsoft e da Google são as referências usadas por toda a gente? Segundo Pereira, a vantagem está na facilidade de utilização. 

“A nossa folha de cálculo, ao contrário das outras, é muito mais fácil de utilizar com dados”, argumentou.

“Antigamente as pessoas trocavam ficheiros csv e xls. Hoje em dia já não é assim. As pessoas têm os dados na cloud, em vários serviços e plataformas, e nós fazemos com que seja mesmo muito fácil extrair, transformar e partilhar esses dados.”

O executivo deu o exemplo de alguém que usa Google Docs e quer importar dados da Salesforce, Google Analytics, Facebook Ads ou outra ferramenta de marketing. Tem que pagar e instalar um plugin, gerir o facto de não ser nativo e ajustar a forma como os dados aparecem. 

“Na Rows, todo esse trabalho é instantâneo e automático”, garantiu. “Nós recriámos uma folha de cálculo que é compatível com o Google Sheets e Excel mas é mesmo muito fácil importar os dados”, reiterou. “Tem lá uma dezena de integrações, mas também permite ligar a integrações genéricas.”

Humberto Pereira também afirmou que esta foi a primeira folha de cálculo a integrar IA e continua a ser “mais fácil” do que as outras. “Dá-nos um benefício muito grande utilizar a IA para fazer perguntas e respostas.” Sem grelhas infinitas, a camada de IA que a Rows implementou permite carregar num botão onde são pré-sugeridas análises e extraídas coisas interessantes sobre os dados.

Os principais clientes do produto made in Portugal são pequenas e médias empresas, até 250 pessoas, e também freelancers e utilizadores individuais. “Ainda não estamos na fase de uma empresa dizer que nunca mais vai usar o Excel e só vai usar a Rows”, indicou Pereira. “Usam Excel e nestas tarefas onde somos melhores começam a usar Rows.”

Com o futuro financeiro assegurado por mais dois anos, a ideia agora é crescer, continuando a navegar a onda que começou em junho do ano passado. Têm várias experiências montadas e assumem não saber qual funcionará melhor, por isso, vão testar tudo. “Nós não sabemos qual é que é o caminho”, disse Humberto Pereira, que gosta de transparência radical. “Raramente as pessoas sabem qual é o caminho como empresa.” 

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