Sair de casa? Nem aos 30!

Publicado a

A retração da compra de habitação própria permanente por parte dos jovens, é cada dia que passa, uma certeza maior. Portugal é já o quinto país da União Europeia onde os jovens saem mais tarde da casa dos pais e, este recuo, cada vez mais inevitável, é provocado, essencialmente, por três fatores: baixos salários, aumento da inflação e perda de poder de compra por parte dos jovens.

Apesar do impacto geral, a atual conjuntura económica tem repercussões mais expressivas numa franja da população mais empobrecida e com menos recursos. Franja essa na qual se incluem os jovens, e não apenas os menos qualificados, mas também os jovens mais qualificados.

Por isso mesmo, o risco de perda de poder de compra é iminente. A juntar ao impacto direto da inflação, temos pela frente as expectativas do BCE (do meu ponto de vista otimistas) que apontam para uma taxa de inflação, em 2022, de 6,8%.

A acrescentar a isto, o esperado aumento das taxas de juro e o crescente receio dos bancos em conceder crédito habitação a compradores que não tenham uma situação financeira e laboral estável, tornará o início de vida dos jovens ainda mais complicado.

Estes dados não são animadores para o mercado e sem um ajustamento salarial que faça face o aumento dos bens e serviços (que não se prevê que venha a haver), este é o cenário poderá ser irreversível a curto prazo.

No mesmo sentido, e segundo o estudo "Estado da Nação sobre Educação, Emprego e Competências em Portugal", houve entre 2011 e 2019 uma perda de salário de 11% em geral e de 15% no caso de jovens recém-licenciados. O mesmo estudo afirma ainda que para empregos cujos requisitos são qualificações médias, houve uma perda salarial de 3% e para empregos cujos requisitos são qualificações superiores uma perda de 11%.

O único escalão onde se verificou uma subida foi no das qualificações baixas, onde houve um crescimento de 5%. Aumento esse que não resulta de crescimento económico e ou produtividade, mas sim do simples facto de ter havido um aumento significativo do salário mínimo nesse período.

Este decréscimo resume-se a duas razões: a curva de crescimento de produtividade não acompanhou a curva de crescimento das qualificações e quase metade dos empregadores portugueses não concluiu o ensino secundário, sendo esta percentagem a maior de toda a União Europeia. O estudo refere ainda que entre 2019 e 2021 houve uma perda de 27 500 trabalhos dirigidos a jovens e que 26% dos licenciados de 2021 se encontravam em situação de desemprego.

Com estas perspetivas de futuro, é altamente provável que decisões como a saída de casa dos pais ou a aquisição de casa própria sejam adiadas pelos jovens para cada vez mais tarde. Em efeito bola de neve, esta decisão terá um impacto a curto e no médio prazo no mercado imobiliário, especialmente nos subúrbios das grandes cidades, uma vez essas zonas são, por norma, as mais procuradas pelos jovens em início de vida.

Nélio Leão, CEO da Imovendo

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt