Santander Totta fecha o ano com lucro histórico de 894,6 milhões de euros

Banco liderado por Pedro Castro e Almeida viu o resultado líquido crescer 57,3% face ao período homólogo. Altas taxas de juro permitiram encaixar 1,49 mil milhões de euros de margem financeira.
Ivo Pereira/Global Imagens
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O Santander Totta despediu-se de 2023 com um resultado líquido histórico de 894,6 milhões de euros, que compara com os 568,5 milhões alcançados no período homólogo e reflete um crescimento de 57,3% face a esta mesma altura, informou esta sexta-feira o banco à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). 

Na apresentação das contas, repescando o discurso do governador do Banco de Portugal, o presidente executivo da instituição salientou a importância de ter um setor financeiro rentável: “É uma fortaleza para o país e um bom ponto de partida para as necessidades do futuro - das famílias e empresas. É a primeira linha de defesa para o crescimento do país.”

Os resultados hoje apresentados, garantiu o CEO, são “sólidos” e assentes “numa boa rendibilidade”. Olhando para os principais indicadores presentes no relatório, o ROE (sigla para return on equity, rácio que mede a capacidade de retorno para o acionista) passou de 12,3% em dezembro de 2022, para 23,4%, refletindo um aumento de 11,1 pontos percentuais.

Apesar de atribuir o mérito à “grande equipa” e ao trabalho de transformação digital e comercial desenvolvido ao longo do último ano, Pedro Castro e Almeida não omitiu que o negócio, à semelhança do que sucedeu com os seus pares, beneficiou largamente das altas taxas de juro. Nesta rubrica, respeitante à diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos, o Santander encaixou 1,49 mil milhões de euros, quase duplicando o montante (mais 708,1 milhões) em relação ao ano anterior.

Já considerando o total do produto bancário - que engloba receitas provenientes de comissões, juros, operações interbancárias e outras despesas -, a melhoria foi de 51,5%, para 1,95 mil milhões de euros. Em sentido contrário do que se tem observado nos últimos anos, este crescimento não se fez à boleia do acréscimo das comissões líquidas, tendo em conta que estas se reduziram em 2,8%, para 457 milhões de euros, na sequência de eventos como a diminuição da produção creditícia e as várias alterações legislativas que limitam a sua cobrança.

Renegociados 55 mil créditos à habitação

Em 2023, a carteira de crédito do Santander Totta avançou 3%, para 44,6 mil milhões de euros, ainda que o stock de empréstimos hipotecários tenha sofrido uma quebra de 4,7%, para os 22 mil milhões de euros - uma evolução em muito explicada pela amortização antecipada de créditos, cujo volume foi “particularmente relevante no primeiro semestre, quando o ritmo de subida das taxas era mais pronunciado”. O crédito ao consumo, por seu turno, ascendeu aos 1,8 mil milhões (-1,7%), enquanto o crédito a empresas cresceu 13,7%, para os 20,5 mil milhões de euros.

Quanto à qualidade dos ativos, a instituição financeira indica que o rácio de NPE, referente ao malparado, situou-se em 1,7%, em resultado de uma redução de 0,3 pontos percentuais face ao período homólogo, sendo que a respetiva cobertura se fixou em 89,2%. “Praticamente não temos crédito malparado e não tenho conhecimento de entrega de casas ao banco”, afirmou Pedro Castro e Almeida, sublinhando o contributo das várias soluções para os clientes com diminuição do rendimento disponível. 

Questionados pelos jornalistas, os administradores presentes na conferência revelaram que o banco renegociou, entre janeiro e dezembro, cerca de 55 mil contratos de crédito à habitação, 7500 dos quais ao abrigo do Decreto-Lei n.º 80-A/2022 (PARI) e os restantes através de soluções bilaterais. Daquele total, 17 mil tiveram acesso à bonificação dos juros - sendo o valor médio mensal bonificado de 70 euros - e três mil à fixação da prestação

Em termos de proporção, as restruturações verificadas até dezembro corresponderam a 20% do stock total de crédito à habitação. De acordo com os gestores, a maioria dos casos ocorreu “no sentido de evitar a diminuição do rendimento disponível, renegociar o preço do crédito e reduzir a prestação do cliente”.

Depósitos caem 3,2 mil milhões no espaço de um ano

Os dados sobre o balanço destacam ainda que os recursos de clientes decresceram 5,4% no ano passado, por comparação a dezembro de 2022, para 43,4 mil milhões de euros, refletindo a redução dos depósitos: caíram 8,5%, mais de 3,26 mil milhões, para um total de 38,5 mil milhões de euros. 

“Por um lado, e no quadro de rápida subida das taxas de juro, as famílias e empresas privilegiaram, nos primeiros meses do ano, a amortização parcial antecipada de parte dos créditos. Por outro lado, diversificaram os seus recursos, com o volume de recursos de fora de balanço a crescer 11,1% em 2023, para 8,1 mil milhões de euros”, lê-se no documento. 

“Vamos começar a ter desafios muito grandes a partir do próximo ano”

Perante o expectável movimento de descida das taxas de juro em 2024, que fará com que a receita arrecadada através da margem financeira diminua, Pedro Castro e Almeida antecipou uma “boa rendibilidade” para primeiro trimestre, uma “rendibilidade razoável” para o primeiro semestre, mas admitiu: “Vamos começar a ter desafios muito grandes, outra vez, a partir do próximo ano.”

No passado dia 31, o grupo financeiro espanhol dono do Santander Totta anunciou que obteve lucros de 11,07 mil milhões de euros em 2023, um valor recorde e 15% superior ao do período homólogo. Em Portugal, o banco terminou o exercício com 4615 trabalhadores, menos 29 face a dezembro de 2022, tendo fechou portas a sete agências, passando a 332.

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