Savannah requer expropriações com “caráter de urgência” em Boticas

Concessionária do projeto de lítio do Barroso define mapa de expropriações e pede declaração de utilidade pública em Covas do Barroso e Vilar e Viveiro. Primeiro anúncio visa a zona Este da área de concessão da Mina do Barroso. Proprietários deverão ser indemnizados em cerca de três milhões.
Emanuel Proença, CEO da Savannah Resources. Foto: Reinaldo Rodrigues
Emanuel Proença, CEO da Savannah Resources. Foto: Reinaldo Rodrigues
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A Savannah Resources, empresa que tem a concessão por 17 anos da produção de lítio na Mina do Barroso, concelho de Boticas, Vila Real, já definiu o mapa dos terrenos baldios e privados a expropriar e determinou, “com caráter de urgência”, a requisição da declaração de utilidade pública da expropriação de terras, nas freguesias Covas do Barroso e Vilar e Viveiro.

“Foram aprovados [pelos sócios da Savannah] a planta parcelar e respetivo mapa de expropriações relativas ao projeto da concessão C100-Mina do Barroso e a resolução de requerer a declaração de utilidade pública da expropriação com caráter de urgência de todos os bens e direitos a eles inerentes afetados pela referida concessão”, lê-se no anúncio de “resolução de expropriar”, com data de 18 de dezembro, a que o DN teve acesso. O anúncio é publicitado esta quinta-feira num jornal impresso local e num jornal impresso de âmbito nacional, tal como manda a legislação nacional.

O caráter de urgência à expropriação pode ser atribuído a obras de interesse público, segundo o Código das Expropriações. No entanto, o projeto de lítio da Savannah não está reconhecido como Projeto de Interesse Nacional.

Os terrenos a expropriar foram avaliados por um perito da lista oficial do tribunal, que assume também a função de árbitro nos procedimentos para a declaração de utilidade pública e determina uma compensação aos proprietários pela cedência administrativa dos direitos sobre os terrenos.

Pelas expropriações, a Savannah deverá pagar um valor global de, aproximadamente, três milhões de euros aos proprietários, segundo avaliações do perito.

No mesmo anúncio, a empresa liderada por Emanuel Proença refere “que necessita de afetar todas as parcelas de terreno identificadas na planta parcelar e respetivo mapa de expropriações”, para avançar com a exploração da Mina do Barroso, cuja operação prevê iniciar em 2027.

Após o anúncio publicitado hoje, os proprietários serão notificados pela Savannah sobre o início dos procedimentos de expropriação, sendo informados do valor de indemnização estimado pelo perito. Até haver uma declaração de utilidade pública, proprietários e empresa ainda poderão negociar acordos sobre os terrenos.

O anúncio do início dos procedimentos de expropriação surge poucos dias depois de a secretária de Estado da Energia, Maria João Pereira, ter emitido um despacho, publicado a 6 de dezembro em Diário da República, que criou uma servidão administrativa, pelo prazo de um ano, dando à Savannah autorização estatal para aceder a terrenos privados e baldios para a prospeção de lítio.

A servidão administrativa visa 46 hectares, que não estão totalmente incluídos no anúncio das expropriações, porque o mapa definido visa só a zona Este da área da concessão da Mina do Barroso. Futuramente, deverá haver um novo anúncio de expropriação para os terrenos da área a Oeste.

De acordo com a empresa, a servidão administrativa, primeiro, e, agora, o início dos procedimentos de expropriação de terrenos, foram solicitados para a empresa concluir o Estudo de Viabilidade Definitivo, rumo à conclusão do licenciamento da Mina do Barroso, e para avançar para outras fases do projeto, como a construção.

Estes passos têm gerado contestação dos habitantes do concelho de Boticas, bem como da câmara municipal. Em entrevista ao DN, publicada ontem, Emanuel Proença, presidente executivo da Savannah, desdramatizou o tema, considerando os procedimentos em causa “totalmente normais” neste tipo de projetos. E afirmou que a população de Boticas tem sido informada, “há bastantes meses”, das diferentes fases do projeto, estando em curso “há três anos um processo de aquisição amigável de terrenos”. Na mesma entrevista, o gestor já antecipava o início das expropriações para “os próximos dias”.

A área da concessão da Mina do Barroso é de 542 hectares (ha), sendo que a área de influência é de 840 ha. Nos primeiros anos de operação da mina, serão necessários 389 ha. Para “proteger” a área de concessão, a empresa definiu o objetivo de adquirir 451 ha, que não são necessários para operar a mina.

Até agora, a Savannah já pagou 2,1 milhões de euros com as ditas aquisições “amigáveis”, pretendendo ainda adquirir mais 171 ha, numa área que está fora dos terrenos abrangidos pela servidão administrativa e pelo processo de expropriação. Nas negociações com proprietários, até aqui, a empresa tem proposto pagar dois euros por metro quadrado, por terrenos florestais, e 2,5 euros por metro quadrado por terrenos agrícolas, resultando em ofertas entre 20 mil a 25 mil euros por hectare, números “bastante acima do valor de mercado” da região, disse o CEO da empresa na entrevista ao DN, lembrando que os valores indemnizatórios pelas expropriações serão inferiores.

Segundo Emanuel Proença, a empresa já investiu mais de 40 milhões de euros no projeto de lítio, estimando que até ao arranque da operação aquele valor suba para 350 milhões.

Em 2027, quando iniciar operação, a Mina do Barroso deverá gerar 300 empregos diretos e até dois mil indiretos. O concelho de Boticas receberá, anualmente, cerca de dez milhões de euros em  royalties [direitos] sobre o uso dos terrenos na área da concessão.

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