
A passagem de uma posição executiva para o cargo de chairman da Science4You não afastará Miguel Pina Martins da empresa que criou há quase 17 anos. Num primeiro momento, dar-lhe-á mais tempo para se focar na estratégia da empresa, que continuará a sua aposta no mercado internacional (responsável por 70% das vendas), e no online. Mas o empreendedor assume que a recente mudança também lhe trará mais tempo para se dedicar a outros projetos. Um deles, o Chief Portugal Officers (CPO), criado há cinco anos com Rui Miguel Nabeiro, anunciará uma nova iniciativa já no próximo dia 28.
Dois anos depois da falência técnica que levou à aquisição da Science4You pela Atena Equity Partners, a empresa anunciou na semana passada a saída de Miguel Pina Martins do cargo de CEO. A posição passa a ser ocupada por Filipe Ramos, até aqui partner e head of sales da empresa de brinquedos educativos. Já Pina Martins transita para a posição de chairman. “É algo que estava a ser preparado há algum tempo e conseguimos encontrar uma pessoa que é mesmo muito boa. O Filipe quando entrou não tinha o objetivo de ser CEO, mas há algum tempo que conseguimos perceber que era uma pessoa que poderia dar um impulso maior à Science4You”, explica Miguel Pina Martins ao Dinheiro Vivo, a partir de Los Angeles.
O fundador da empresa mostra-se tranquilo face ao afastamento de uma posição executiva na empresa que criou em 2008 e que, no seu pico, chegou a registar 20 milhões de euros de faturação, o dobro dos atuais 10 milhões. “Eu já era mais um bocadinho chairman do que CEO: tive uma liderança em que delegava basicamente tudo tirando a parte estratégica. Nesta fase é mais uma mudança de título. É algo que já estava a fazer e o Filipe também já fazia um bocadinho o papel de CEO. Acabamos por encontrar este equilíbrio que, acredito, nos vai dar melhores resultados”, explica.
Presença na “cidade dos brinquedos”
A mudança de posição não irá implicar um novo rumo para a empresa, adianta Miguel Pina Martins. “O movimento estratégico que estamos a fazer, do crescimento do canal online, via Amazon e não só, continua a ser uma aposta muito grande e vamos continuar a fazê-lo”, diz o responsável, que recorda a posição da Science4You enquanto empresa portuguesa com mais vendas na Amazon. “Queremos continuar a construir essa relação e continuar a crescer na Amazon, nomeadamente nos EUA, onde estamos a fazer investimentos muito fortes, com o novo escritório e o novo armazém”, continua Pina Martins, sem contudo quantificar o valor do investimento.
Com o novo escritório (com um showroom permanente), a empresa portuguesa chega a Los Angeles, uma localização estratégica para este segmento de mercado. “Los Angeles é um bocadinho a cidade dos brinquedos. Temos aqui a Mattel, a SpinMaster e é onde acontecem duas feiras por ano, uma agora em setembro, organizada pela Toy Industry Association, e outra em abril”, refere Pina Martins.
Já a escolha dos arredores de Baltimore, na costa leste para a localização do armazém (de onde é feito o shipping para o mercado norte-americano), deve-se à maior proximidade geográfica. “Tudo o que vendemos nos EUA é produzido em Portugal e tem de entrar por esse lado”, diz o chairman da Science4You que assume que a empresa quer ser “um player importante no mercado americano”.
“No ano passado tivemos um crescimento de 20% nas vendas e no primeiro semestre deste ano aumentámos 30%. Felizmente, nos últimos três semestres, a estratégia está a dar resultado e não há, nesta fase, nenhum plano para mudar”, assume Miguel Pina Martins, para quem “nos próximos 10 a 15 anos o caminho vai ser online”. Offline, os planos passam por reforçar a posição nos mais de 50 países onde a Science4You está presente.
“Enquanto portugueses precisamos de criar produtos, precisamos de criar marcas, de entrar nestes retalhistas e neste momento a Amazon é praticamente o maior retalhista a nível mundial”.
A médio e longo prazo, Miguel Pina Martins não esconde que a nova posição lhe poderá dar mais tempo para projetos fora da Science4You. “Tenho este sangue empreendedor, gosto de fazer coisas novas e diferentes. É público que vou liderando outros grupos, como o Chief Portugal Officers, e acho que a mudança me pode libertar um bocadinho”, adianta o empresário.
“O trabalho feito no CPO é do meu interesse e do interesse do país: juntar pessoas, inspirar pessoas e dar ferramentas de educação. Há cinco anos que o estamos a fazer e vamos poder continuar a fazer esse caminho”, garante Miguel Pina Martins, que também pretende manter uma participação ativa na AMRR- Associação de Marcas de Retalho e de Restauração. “Mas ainda é tudo muito recente. Neste momento o meu foco é a Science4You”.